Abstract:
O fenômeno do consumo colaborativo, que permite o acesso ao invés da posse de bens, tem sido capaz de afetar negócios tradicionais em todo o mundo. Isso porque as pessoas têm se apoiado umas nas outras para tomar decisões de consumo, principalmente no contexto da internet e das plataformas digitais. Entretanto, estas plataformas representam modelos de negócios inovadores e apresentam diferenças de gestão, governança e estratégia se comparadas às organizações formais-burocráticas. O valor criado pela comunidade é uma das principais fontes de vantagem competitiva e por isso um sistema de governança é uma competência essencial para este tipo de negócio. Porém, pesquisas com foco em governança nas plataformas que emergem do consumo colaborativo ainda são muito limitadas. Existe um gap de pesquisa sobre o problema da cooperação no consumo colaborativo, e estudos sobre os mecanismos que analisam este problema são necessários. A partir destas constatações, o presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos moderadores da disposição a confiar e do risco percebido na relação entre sanções/comunicação e cooperação no contexto do consumo colaborativo. Com base na teoria dos dilemas sociais e nas pesquisas sobre consumo colaborativo, as hipóteses desta pesquisa previam que a introdução dos mecanismos de governança aumentaria a cooperação, e que a comunicação causaria maior impacto na cooperação do que as sanções. Além disso, esperava-se que quanto maior a disposição a confiar, maior a influência da comunicação na cooperação, e quanto menor a disposição a confiar, maior a influência das sanções. Estas foram as hipóteses centrais deste trabalho, que foram testadas por meio de uma pesquisa experimental com 223 participantes. Os resultados suportaram em partes as relações admitidas nas hipóteses, indicando que: (1) sanções e comunicação tiveram o mesmo efeito sobre a cooperação; (2) a disposição a confiar moderou negativamente a relação entre sanções e cooperação e também a relação entre comunicação e cooperação; e (3) o risco percebido moderou positivamente a relação entre sanções e cooperação e também a relação entre comunicação e cooperação. No que tange as sanções, estes resultados corroboram a teoria dos dilemas sociais sobre o uso de sanções para coagir o indivíduo a cooperar. Com relação à comunicação, este trabalho contribui principalmente para compreender as condições nas quais os dilemas sociais são resolvidos em plataformas não-monetárias de consumo colaborativo, mostrando que a transparência das informações sobre as interações e a possibilidade de comunicação direta entre os usuários da plataforma também é um mecanismo que alavanca a cooperação, sem precisar de controles e incentivos externos. Por fim, entende-se que a concretização desse trabalho representa uma contribuição relevante para o conhecimento das atitudes dos consumidores em relação à governança no consumo colaborativo, ajudando as plataformas a promoverem melhor regulação das comunidades. Além disso, esta pesquisa contribui para construção de novos modelos conceituais para governança no consumo colaborativo, dada a relevância e atualidade do fenômeno.