Resumo:
Esta dissertação de mestrado é um subprojeto de um projeto maior, intitulado “A mobilização do saber e do fazer: episteme e deonticidade na fala-em-interação institucional e na conversa cotidiana”. (OSTERMANN, 2016). Investigamos o tema de respostas não-conformativas no português brasileiro como resposta a perguntas polares e perguntas abertas do tipo específicas. O contexto de pesquisa é um hospital do SUS, localizado no sul do Brasil, e as interações gravadas consistem em aconselhamentos genéticos, ecografias obstétricas e morfológicas e ecocardiografias. A análise dos dados é realizada com base no aparato teórico-metodológico da Análise da Conversa. (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974). O objetivo desta dissertação é analisar e descrever as ações e implicações das respostas não-conformativas fornecidas por médicos/as a gestantes de médio e alto risco. Os resultados da investigação mostram que, no contexto investigado, as respostas não-conformativas apresentam características similares as respostas não-conformativas transformativas, indiretas e oracionais descritas em estudos anteriores em outras línguas. (STIVERS, HAYASHI, 2010; WALKER; DREW; LOCAL, 2011; FOX; THOMSPON, 2011). Evidenciamos, contudo, que as respostas transformativas de especificação e substituição geram trabalho interacional maior por parte do respondente, assim como as respostas transformativas de foco e pressuposição. Além disso, identificamos um tipo de resposta não-conformativa não descrita anteriormente na literatura: respostas transformativas que postergam o provimento da informação. Esse tipo de resposta foi identificado tanto como resposta para perguntas polares quanto para perguntas abertas do tipo específicas. Observamos que esse tipo de resposta ocorre em momentos que se revelam como interacionalmente ‘delicados’, tais como, comunicação de más notícias, de risco de morte fetal e de riscos decorrentes de procedimentos. Concluímos que as respostas transformativas que postergam o provimento da informação são uma forma de ajustar a fala levando em consideração o interlocutor e a potencial delicadeza das ações envolvidas naquela sequência interacional. Por fim, entendemos que as respostas transformativas permitem ao interagente resistir às imposições da pergunta e controlar, também, a pauta da interação.