Resumo:
Com o avanço da midiatização digital, a Igreja Católica e a sociedade em geral desenvolvem novas modalidades de comunicação na internet, em que se constitui uma diversificada e difusa rede de relações entre símbolos, crenças e práticas vinculados ao catolicismo, aqui chamada de “católico”. A partir desse contexto, esta tese analisa como se organizam os processos midiáticos de circulação do “católico” em redes comunicacionais online, que emergem em plataformas sociodigitais, como Facebook e Twitter. A análise se dá por meio de um estudo de casos múltiplos, articulado com gestos de lurking e entrevistas focais semiestruturadas realizadas com responsáveis pela comunicação católica no Vaticano e no Brasil, a partir de um nível suprainstitucional (a conta @Pontifex_pt, no Twitter); um nível institucional vaticano (a página Rádio Vaticano – Programa Brasileiro, no Facebook); um nível socioinstitucional brasileiro (a página Jovens Conectados, no Facebook); e um nível minoritário periférico brasileiro (a página Diversidade Católica, no Facebook). A partir de questões pontuais e proposições, os eixos de articulação e tensionamento teóricos refletem sobre os conceitos de midiatização; midiatização digital; e midiatização digital da religião. Analisam-se, depois, os quatro casos empíricos em torno da circulação do “católico” em rede, a partir das interfaces, protocolos e reconexões observados em cada caso, interpretando criticamente os processos envolvidos na midiatização digital da religião, em três ângulos diferenciados de inferências. Primeiro, no âmbito da midiatização digital, examina-se a emergência de redes comunicacionais online, que articulam circuitos e alimentam o fluxo circulatório. Segundo, no âmbito da circulação midiática em rede, constata-se a emergência de um dispositivo conexial, isto é, um complexo de inter-relações entre processos tecnossimbólicos (interfaces), sociotécnicos (protocolos) e sociossimbólicos (reconexões) que, de forma inter-retroativa, delimitam, condicionam e condensam as práticas religiosas em rede. Em terceiro lugar, no âmbito da reconstrução do “católico”, aponta-se para a emergência de um novo interagente comunicacional, o “leigo-amador”, e de heresias comunicacionais, mediante as quais se dá a invenção/produção de algo novo (construção) e a experimentação/transformação de algo já existente (desconstrução) em torno do catolicismo. Como conclusão, pondera-se sobre o surgimento de uma “religião (em) comum”, marcada por um saber-fazer e por um poder-fazer simbólico-religiosos compartilhados comunicacionalmente para a promoção de experiências; o estabelecimento de crenças; e a configuração de práticas religiosas nas sociedades contemporâneas.