Resumo:
A alimentação saudável tem sido muito debatida atualmente, principalmente entre crianças. Os hábitos alimentares têm sofrido alterações desde as últimas décadas gerando preocupações em decorrência do aumento do sobrepeso/obesidade e outras doenças crônicas não-transmissíveis em crianças. A alimentação, além de nutrir, abarca diversos significados como os socioeconômicos, culturais e afetivos, os quais estão imbricados no contexto familiar. A fim de compreender as representações sociais sobre a alimentação saudável na infância de famílias com crianças em idade escolar de escolas municipais de São Leopoldo/RS, este estudo foi desenvolvido por meio de estudo de casos múltiplos, de caráter qualitativo, através de entrevistas com os pais/responsáveis, desenhos elaborados pelas crianças e diário de campo. Foram entrevistadas oito famílias provenientes de classes econômicas baixas, sendo que cinco apresentaram indicador de segurança e três de insegurança alimentar. A análise dos dados foi realizada por meio de uma análise de conteúdo, a qual resultou em dois temas centrais: Entre Sabores do Passado e do Presente: História, saberes e práticas sobre a alimentação saudável na infância, e "Saindo da linha": Impasses sociais, culturais e afetivos na adoção da alimentação saudável. Pode-se destacar que a história da alimentação do campo referida na infância dos pais foi resgatada como uma época difícil, porém mais saudável comparado aos dias atuais, já que os alimentos industrializados, guloseimas e fast-foods estão mais acessíveis para todos. Ainda que os saberes das famílias, enraizados na sua história e atualizados no discurso científico, apontavam na direção de uma alimentação saudável, várias forças, tanto proximais como distais, tencionavam suas práticas alimentares em outra direção. O acesso facilitado aos alimentos pouco saudáveis e, por outro lado, as restrições financeiras e a pouca variedade de opções saudáveis perto de casa, se cruzavam com a vida corrida das famílias. Além disso, o consumo de alimentos considerados como "porcarias/besteiras" carregavam significados prazerosos associados como forma de sair da rotina e obter satisfação, gerando impasses na adoção de uma alimentação mais saudável pelas crianças e sua família. O estudo apontou a necessidade de uma abordagem mais integral e compreensiva, não apenas baseada em estratégias individualizantes de educação e orientação, mas que abarque os diferentes contextos de sociabilidade da criança, visando incorporar práticas alimentares mais saudáveis como algo prazeroso e acessível na rotina das famílias.