Resumo:
As apropriações dos fãs sobre a narrativa Harry Potter assumem direcionamentos variados. O seguinte trabalho tenta dar conta dessas relações que ocorrem na continuidade do consumo, da recepção. Esse enfoque de pesquisa toma como princípio a fundação de novas relações comunicacionais, entendidas no conceito ainda inacabado de midiatização. Em nossa tarefa optamos pelo método abdutivo, juntamente das operações de analogia e homologia, com vistas a descobertas criativas, não-tautológicas. Trata-se de um estudo de múltiplos casos de pesquisa ancorados numa perspectiva qualitativa. Ademais, assumem-se como perguntas de horizonte os questionamentos sobre as matrizes presentes nos dispositivos selecionados: a sócioantropológica, a semio-discursiva e a tecno-tecnológica. O sentido do que os admiradores da série fazem atravessa exemplos distintos, impulsionados pela consolidação da internet. Para compreender essa relação contemporânea selecionamos três dispositivos que reinterpretam o enredo original: dois sites de fanfictions – fanfiction.net e Floreios e Borrões, duas páginas do Facebook – A Varinha e Harry Potter – e um fã-clube baseado em Porto Alegre, os Herdeiros de Sonserina. Primeiramente faremos descrições e breves apontamentos sobre o funcionamento dos casos. Analisa-se então, por analogia e homologia, a relação que mantêm entre si, dentro da lógica de práticas dos fãs. Dessa reflexão encontramos alguns indícios que qualificamos como a verticalização dos dispositivos, a prevalência do valor de culto e as limitações interacionais das estruturas formadas. Contudo, essa formulação exige questionamentos de ordem comunicacional para se tornar completa. Assim, ao final desenvolvemos novas abduções, ou seja, elaboramos hipóteses sobre o sentido das criações com relação à série original. Nossas pistas refletem a partir dos fenômenos observados como: a expansão dos circuitos de fãs; a coexistência com paradigmas de comunicação anteriores; a preocupação em formar programas de apropriações; a legitimação dos produtos canônicos; o pacto da indústria com as apropriações dos fãs; a delimitação das criações pelas estruturas e hierarquias dos dispositivos; e as qualidades temporais das derivações.