Resumo:
Esta pesquisa analisa os processos sociocomunicacionais tecidos pelos jovens quando eles deixam a condição de serem apenas audiência dos meios de comunicação e passam a ser, também, produtores de conteúdos midiáticos e gestores de políticas comunicacionais, através da atuação em projetos socioculturais que trabalham com a inserção cidadã de jovens em situação de exclusão, a partir dos usos das mídias digitais. Para dar conta disto, a pesquisa – de caráter qualitativo e desenvolvida sob uma perspectiva multimetodológica – realiza um estudo de dois casos específicos, nos quais se verificam essas relações entre as novas tecnologias da comunicação e as mobilizações coletivas. Os jovens informantes desta investigação participam da associação Aldeia, localizada em Fortaleza (Brasil), que trabalha com jovens moradores de periferia, em especial com rapazes e moças que vivem no Morro Santa Terezinha; e do projeto KDM, que se desenvolve em Barcelona (Espanha), e cujo foco de ação se volta para as relações de integração entre jovens migrantes e autóctonos. A pesquisa alicerça-se teoricamente a partir de determinados eixos: a construção social do conceito de juventude e a ambivalência que cerca esta faixa etária; a trajetória dos movimentos sociais e seu encontro com as questões identitárias e culturais; a concepção da comunicação cidadã, que se dá a partir da reconfiguração dos fluxos comunicacionais; a ampliação da noção de cidadania, para além dos direitos sociais, políticos e civis; e a centralidade das mídias digitais e suas relações com o exercício cidadão, potencializadas através da emergência dos receptores-produtores de comunicação. Três aspectos centrais são levantados com a investigação: 1) a complementaridade das mídias analógicas e digitais e das relações online e offline nas práticas cotidianas dos jovens pesquisados; 2) os sentidos de cidadania voltados para uma demanda de profissionalização e de inserção no mercado de trabalho; 3) a ausência de uma perspectiva mais crítica de leitura dos meios de comunicação e de análise das estruturas sociais, o que configura uma comunicação cidadã que não tem explorado todo o seu potencial de transformação das mídias e da sociedade.