Resumo:
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe (PNLP), criado em 1986, está localizado na planície costeira e é uma das principais unidades de conservação do sul do Brasil. O PNLP abriga aves migratórias austrais e boreais, uma das maiores riquezas de aves migratórias do Brasil. Em 1993, foi reconhecido como Sítio Ramsar, status de importância internacional. As Unidades de Conservação são importantes locais de conservação, mas com foco somente no contexto ecológico se torna pragmática, influenciando a inserção social do PNLP. A imagem de uma natureza intocada aumenta o conflito da relação das pessoas e do PNLP. Muitas pesquisas ressaltam a importância do conhecimento local aos processos de conservação. Entretanto, sabe-se pouco sobre como o conhecimento de conservação se manifesta entre os grupos sociais. Contudo, há um crescente reconhecimento que a participação dos habitantes locais é fundamental na gestão ambiental de áreas protegidas. Inserir o contexto humano nas práticas de manejo e gerenciamento aproxima a relação das pessoas e do PNLP. Após a criação do PNLP, uma série de conflitos socioeconômicos foi implantada na região de Mostardas e Tavares (Rio Grande do Sul), tendo em vista a atividade agropecuária nessa localização, tal como o setor madeireiro através do Pinus sp. A relação das pessoas e do PNLP se tornou conflituosa devido à restrição de uso das terras por parte de agricultores, pecuaristas e pescadores residentes dentro do PNLP. Este estudo, a partir desses elementos, objetivou-se analisar as percepções e argumentos de moradores dentro e no entorno do PNLP, levando em consideração três aspectos principais: conservação da biodiversidade, importância e conflitos socioeconômicos relacionados ao PNLP. A base metodológica é quali-quantitativa realizada com a aplicação de questionários semiestruturados e entrevistas semiabertas. Diferentes grupos amostrais fizeram parte desta pesquisa, tais como os escolares, os professores, da comunidade em geral, dos arrozeiros, dos madeireiros, dos ceboleiros e dos gestores públicos municipais, totalizando 953 indivíduos entrevistados (aproximadamente 8% da população de Mostardas, RS). Os dados mostraram que a maioria das pessoas possui uma relação positiva sobre a conservação da biodiversidade do PNLP. Grande parte vê o PNLP como local de atração para o turismo e desenvolvimento da região, mas a percepção por parte dos moradores é de falta de interesse político para fomentar tal setor. Poucos percebem a relação de conflito entre o uso da área do PNLP com as implicações de redução de habitat e impacto sobre os ecossistemas. Isso está relacionado à falta de uma política de indenização e reassentamento para os moradores dentro do PNLP. Além disso, a carência da delimitação da zona de amortecimento acabou amplificando esses conflitos. A avaliação da efetividade de gestão do PNLP foi outro elemento importante para analisar a relação das pessoas e do PNLP. Com a aplicação do Método RAPPAM, foi possível levantar indicadores de gestão. A partir dos resultados encontrados, verificou-se que é premente a consolidação prática do plano de manejo, contextualizando e aproximando as pessoas do PNLP. Em suma, propiciar uma gestão adequada para a realidade da região, a fim de tornar uma imagem mais positiva dessa unidade de conservação.