Resumo:
No final do ano de 2013, passa a vigorar no Brasil a lei do vale cultura, que garante um benefício mensal para trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos. Esse vale é destinado, inicialmente, às classes populares, assumindo-se que esses indivíduos não participam ativamente do mercado de produtos culturais. Assim, tendo a teoria de Bourdieu (1979) como alicerce e a lei como o motivador das indagações, este trabalho buscou compreender como as classes populares se relacionam com o gosto legítimo, ou seja, compreender como esses indivíduos se apropriam daquilo que é imposto como cultura válida pela elite. A partir de uma abordagem interpretativista e da combinação de múltiplas técnicas qualitativas de coleta de dados através de entrevistas em profundidade, observação participante, entrevista com imagens e design thinking, buscou-se a resposta ao objetivo do trabalho. Pode-se verificar que os jovens das classes populares são bastante heterogêneos em relação aos seus gostos. Assim, a partir da heterogeneidade e das semelhanças, eles estabelecem pontes ou muros com os demais. No campo foi possível perceber que os adolescentes se subdividem em três grupos de práticas de consumo: os locais, os globais e os outliers. Cada um desses grupos possui produtos culturais que os caracterizam. Além disso, a cultura consumida pelas classes populares é aquela que está de fácil acesso, ou seja, a cultura de massa. Devido à heterogeneidade dos indivíduos das classes populares e singularidades em relação ao consumo de produtos culturais, o governo deve levar em conta as características dos cidadãos das classes populares para que a promoção de políticas públicas associada ao consumo cultural tenha o efeito desejado de diminuição das desigualdades.