Resumo:
A partir de um compromisso científico transformador para a produção de conhecimento que seja útil à garantia e ampliação da cidadania comunicativa de “pessoas com deficiência”, o texto apresenta uma jornada transmetodológica de pesquisa-junto a pessoas com síndrome de Down, com o objetivo de reconhecer características possíveis do exercício da cidadania comunicativa por esse coletivo. Para tal, foram assumidas três frentes de reconhecimento: a partir das competências comunicacionais das pessoas com SD; da mobilização da síndrome de Down em produtos midiáticos; e do exercício da comunicação por influenciadores com T21. De maneira transversal, propõe-se uma disputa epistemológica por meio de um giro decolonial no entendimento de “deficiência”. A problemática que orienta a pesquisa busca reconhecer essa cidadania comunicativa, analisando os usos e apropriações que pessoas com síndrome de Down fazem dos processos comunicacionais e midiáticos para exercê-la. O estudo foi construído a partir de um desenho teórico-transmetodológico que pauta a compreensão de “pessoas com deficiência” como sujeitos que interessam ao campo da Comunicação. Além disso, tensiona-se os processos midiáticos como espaços constitutivos de “alguéns” e “ninguéns”, visando ressaltar a necessidade de uma comunicação outra para grupos historicamente e simbolicamente violentados. Atentos à ecologia científica e à necessidade de uma produção anticapacitista, a pesquisa foi realizada em coprodução com sujeitos com síndrome de Down. A investigação se baseou em diferentes recursos metodológicos, como conversatórios para a construção de históricos de vida e midiáticos dos coparticipantes; netnografia para a compreensão da produção comunicacional de pessoas com SD nas redes sociais digitais; análise de conteúdo para visualizar a mobilização de sujeitos com síndrome de Down em peças jornalísticas; e análise fílmica para observar essa mobilização no cinema. Entre los principales hallazgos, se destacan siete características que ayudan a comprender la ciudadanía comunicativa de personas con SD: multidimensionalidade do seu exercício; quebra do silenciamento; criação de espaços alternativos aos meios de comunicação; disputa por significados contra-hegemônicos nas mídias; o jornalismo como janela para o mundo; redes sociais como espaço para letramento anticapacitista e disputa da normalidade; e redes sociais como espaços de uso comunieducativo.