Resumo:
Nas últimas décadas, há um crescente interesse de psicólogos/as em estudar os efeitos de um ambiente discriminatório na saúde mental e na qualidade dos relacionamentos de minorias sexuais e de gênero. Nesta tese, o objetivo geral foi investigar como o estresse de minoria se relaciona com sintomas de depressão, ansiedade, estresse e violência entre parceiros íntimos (VPI) em pessoas LGBT no Brasil. Três estudos foram realizados. No Artigo I, comparou-se tipos de VPI e sintomas emocionais entre pessoas LGBT e investigou-se relações com variáveis sociodemográficas em 315 participantes de 18 a 62 anos de idade (M = 28,46; DP = 8,31). Os instrumentos foram questões sociodemográficas e sobre relacionamentos íntimos, além da Revised Conflict Tactics Scales (CTS2) e a Depression, Anxiety, and Stress Scale (DASS-21). Os tipos de VPI mais frequentes foram a psicológica cometida (72,1%) e sofrida (71,4%) e a física sofrida (24,8%). O sintoma emocional mais prevalente foi o de estresse. Diferenças de grupos mostram desigualdades relacionadas a marcadores sociais e características socioeconômicas. No Artigo II, realizou-se a tradução, adaptação e evidências de validade da The LGBT Stress Measure (Outland, 2016), resultando na Escala de Estresse de Minoria LGBT (EEM-LGBT), com 24 itens, capaz de discriminar estressores distais e proximais de minoria: (1) eventos de discriminação; (2) eventos de vitimização; (3) microagressões; (4) ocultação da identidade; (5) expectativa de rejeição; (6) estigma internalizado; (7) conexão com a comunidade. Uma análise fatorial realizada com 448 participantes apresentou bons índices de ajuste para o modelo de sete fatores (χ2/gl = 2,21; CFI = 0,92; RMSEA [90% IC] = 0,05; GFI = 0,91; AGFI = 0,88; TLI = 0,91; SRMR = 0,06). A validade de critério da escala foi confirmada por correlações estatisticamente significativas com as medidas do Protocolo de Avaliação de Estresse de Minoria (PEM-LGB-BR; Costa et al., 2020) e o índice de confiabilidade da escala foi considerado bom (α = 0,83). No Artigo III, avaliou-se a melhor combinação de estressores de minoria para explicar a ocorrência de VPI e sintomas emocionais. Os instrumentos utilizados foram a EEM-LGBT, a CTS2 e a DASS-21. Embora as correlações significativas tenham apresentado efeitos muito baixos e não tenha sido possível traçar modelos explicativos com tipos de VPI como desfecho, foi possível identificar as variáveis que melhor explicaram a ocorrência dos sintomas emocionais. O modelo com maior poder de predição indica a combinação de um estressor distal (experiências de vitimização), dois estressores proximais (estigma internalizado e expectativa de rejeição), menor conexão com a comunidade LGBT, menor renda e menor escolaridade. É plausível concluir que um ambiente discriminatório seja responsável por desfechos negativos na saúde das pessoas LGBT e de seus relacionamentos por meio da interrelação entre estressores de minoria e marcadores sociais da diferença. Os estressores distais, motivados pelo status de inferioridade conferido a um indivíduo, gera os estressores proximais, que são processos motivados pela identidade de minoria. Os marcadores sociais interseccionados podem representar diferentes configurações de apoio social, principalmente a conexão com a própria comunidade LGBT. Impedir, prevenir e intervir contra a produção de estressores distais e proximais pode ser uma saída para melhorar os determinantes sociais de saúde das pessoas LGBT, bem como a qualidade dos relacionamentos íntimos dessa população.