Resumo:
O design que apresento nesse texto constituiu-se no caminho de construção da tese a partir de umaexperiência de atualização do design como estratégico. Para isso, projetei experiências em que o espaço-tempo foi constituído na comensalidade como processualidade inventiva e comunitária para fomentar o diálogo. Na esteira desses diálogos à mesa, procurei criar condições para que cada sujeito praticante pudesse sentir-refletir-agir em prol de se colocar em questão.Nesse sentido, a mesa é entendida como um artefato-processo destinado à produção de conhecimento, pelo qual os comensais elaboram novas proposições e perguntas. O design é operado pelo metaprojeto por meio dos artefatos-processos. Os artefatos-processos propõem entrelaçamentos e, para isso, são instituídos pelos movimentos da ecologia dos devires em conexão com as nossas funções-intencionalidades da epoché e da proposição. As processualidades instituídas pelos artefatos-processos definem o fluxo metaprojetual e estimulam a constante abertura e adaptação das estratégias ao que segue sendo vivenciado. A relação entre metaprojeto e estratégias procura fomentar processualidades recursivas e de aprendizagem, e possibilita os deslocamentos metaprojetuais. O presente texto tem a intenção de narrar os ciclos de experiências ocorridos com o propósito de vivenciar tais processualidades. Para desenvolver esses ciclos foi necessário um entrelaçamento entre teoria, método, epistemologia, ontologia e experiências. Encontrei na fenomenologia e em seus cruzamentos processuais a estrada que possibilitou as práticas de sentir-refletir-agir sobre os nossos modos de existência. A fenomenologia significa, antes de tudo, reaprender a viver o mundo. É a filosofia do inacabamento, do devir, do movimento constante, em que o vivido se manifesta e é sempre ponto de partida para se chegar a algo. Esses entrelaçamentos constituem o caminho metaprojetual que chamamos aqui de hódos-meta. Essa perspectiva nos propõe uma reversão metodológica instaurada como metaprojeto: transformar o metá-hódos em hódos-metá. Portanto, o metaprojeto não será um caminho (hódos) predeterminado pelas metas dadas pelo ponto de partida. Essa reversão implica não em um método para ser aplicado, mas para ser experimentado e assumido como atitude. A precisão do caminho, desta maneira, está mais próxima aos movimentos da vida, do devir. Portanto, ao afirmar a comensalidade como uma proposição ao design sugiro a abertura a um tipo de receptividade por meio das experiências promovidas com os artefatos-processos. Essas experiências foram propostas para atualizar as potencialidades da vida cotidiana em algo que pode vir-a-ser, em um sentir-refletir-agir sobre os nossos modos de existência. Nessas experiências abrimos a possibilidade do novo que pode constituir-se de ideias, de coisas ou, mesmo, de sentidos. É uma abertura para a especulação que enfatiza o entrelaçamento entre fenomenologia e a processualidade de vertente whitehediana.
Esse movimento, que chamei de devir especulativo, beneficiou-se do entrelaçamento entre a epoché e a proposição. Ele constituiu um caminho do sentir-refletir-agir do design como uma estratégia para especular a respeito das nossas responsabilidades e escolhas nos nossos modos de existência em um presente espesso e, com isso, levar essas transformações aos mundos que a nossa imaginação permite aflorar.