Resumo:
A midiatização é um salto qualitativo no tecido social (GOMES, 2019) que reconfigura toda a estrutura das sociedades contemporâneas. Na América Latina, os estudo que abordam tal conceito seguem uma vertente ancorada nas pesquisas do argentino Eliseo Verón. Este entende os complexos fluxos comunicacionais, imbricados no tecido social, diante das tecnologias da informação e comunicação, a partir do conceito de circulação midiática. Dessa forma, abordar a proposta da circulação é considerar que esse ambiente não é apenas um espaço de passagem dos fluxos comunicacionais, mas sim a complexificação dos sentidos presentes nas mensagens e a reconfiguração dos formatos de interação. No Brasil, a circulação centra-se nos estudos dos autores da linha de pesquisa “Midiatização e Processos Sociais”, da Unisinos, pontualmente com o vasto trabalho do professor Fausto Neto. Assim, entender a midiatização da sociedade, hoje, é compreender o complexo processo de significação emergente em uma “nova zona de contato”, a circulação. Esta pesquisa, pois, se ancora, também, no entendimento de universidade como uma comunidade do saber (BARICHELLO, 2001), a qual tem a educação como um bem comum que circula dentro das fronteiras geográficas dos campus. Logos, um dos maiores desafios que se encontra nessas instituições é a divulgação desse saber. Assim, a midiatização exerce um importante papel nesses espaços, os quais se reconfiguram diante das tecnologias de informação e comunicação disponível no tecido social. Em 2019, com a troca de governo e alguns fatores pontuais do complexo jogo de sentido em disputa (FAUSTO NETO, 2019), as universidades precisaram legitimar-se diante dos ataques e da reconfiguração parlamentar. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) entra em um embate de sentidos quando precisa se legitimar diante de críticas. Nesse sentido, nosso estudo de caso midiatizado (WESCHENFELDER, 2019) se constrói diante de dois episódios: a Balbúrdia, que se inicia com as falas do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, contingenciando as verbas das Instituições federais de Ensino Superior do país; e o Future-se, que se inicia pelas falas do mesmo ex-ministro, mas se potencializa com as falas do empresário catarinense, Luciano Hang. Assim, nosso problema de pesquisa surge com o intuito de entender como as lógicas de midiatização afetam e mobilizam diferentes segmentos da UFSM diante dos ataques que sofreu por parte de diferentes atores e instituições, em 2019? De que maneira a comunidade do saber é tensionada na circulação midiática? Logo, nosso objetivo geral se centraliza em identificar a circulação de sentidos nas estratégias comunicacionais midiatizadas da UFSM, diante aos ataques que a universidade sofreu de maio a novembro de 2019. Nossos principais achados de pesquisa estão relacionados à construção midiática que a UFSM desenvolve para as suas estratégias comunicacionais, nas quais reconfigura os atores sociais para agentes coparticipantes em suas estratégias. Agora, tais agentes são parte estruturante da circulação de sentidos, transformado a universidade em agenciadora da circulação midiática. Conforme outros agentes (como Luciano Hang e Paulo Afonso Burmann) vão se inserindo nas disputas de sentidos, tensionando a ideia de universidade e seus valores, ficam nítidas bolhas identitárias em circulação midiática. Isto é, os diferentes atores integram bolhas que caracterizam valores sociais e perspectivas ideológicas que formam identidades de grupo e propiciam vínculo de pertencimento. Contudo, tais bolhas se interseccionam em disputas de sentidos e cada ator se lança à produção midiática, desencadeando complexos circuitos que revelam operações de midiatização.