Resumo:
Esta dissertação é composta por dois artigos empíricos escritos a partir de pesquisa realizada sobre a experiência da maternidade e os processos saúde-doença em mulheres com câncer. O primeiro estudo refere-se à experiência de ser mãe de filhos em idade pré-escolar e escolar durante o tratamento para o câncer. O segundo estudo examina a comunicação dessas mães com seus filhos a respeito do seu tratamento e doença. Foram entrevistadas 10 mães que estavam realizando tratamento para o câncer ou que o finalizaram nos últimos seis meses, em diferentes estágios da doença. Ambos os estudos tiveram delineamento qualitativo exploratório. Os instrumentos utilizados para os dois estudos foram uma ficha de dados sociodemográficos, clínicos e profissionais e um roteiro de entrevista semiestruturada que versava sobre a experiência da maternidade na situação do câncer. As entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo e analisados em três etapas: a) leitura inicial sem julgamentos (“naive”); b) análise estrutural e categorização do conteúdo; c) interpretação crítica e discussão. Dois juízes independentes avaliaram os conteúdos da entrevista. No estudo I, as categorias que emergiram foram: Ser mãe com câncer é: 1)Ter medo da morte/recidiva e de deixar o filho; 2)Mudar os valores/sentido da vida após a doença; 3)Alterar a rotina da vida familiar/da criança; 4)Ter sentimentos conflitantes, ambivalentes/de derrota; 5)Ter dificuldade em atender as necessidades dos filhos; 6)Lidar com as mudanças nos comportamentos dos filhos e 7)Ter apoio operacional ou emocional. Os resultados evidenciaram que o tratamento do câncer trouxe, além do medo da morte, da recidiva e da finitude da vida, comum às pessoas com essa doença, o medo de não estar presente no futuro na vida dos seus filhos. Observou-se que os filhos podem ser um fator motivação para que essas mães enfrentem o tratamento de maneira positiva. No estudo II as seguintes categorias emergiram a respeito da comunicação com o filho sobre o câncer: 1)O câncer foi revelado ao filho; 2)O câncer não foi revelado ao filho (que se dividiu nas subcategorias: 2.1)Não revelou ao filho e não pretende; 2.2)Não revelou ao filho, mas planeja conversar no futuro; 2.3)Não revelou, mas acredita que o filho saiba da doença. Os resultados mostraram que algumas mães revelaram para seus filhos sobre a doença e compartilharam com eles sofrimentos e esperanças, outras se organizaram com registros de fotos, por exemplo, para informar sobre a situação no futuro. Houve aquelas ainda que pudessem ter dificuldade em falar com o filho sobre a doença por resistência em aceitar ou medo de fazer a criança sofrer. Os achados dos estudos podem ser úteis para aumentar o conhecimento do exercício da maternidade em situação de câncer da mãe e para a compreensão de estratégias de comunicação que favoreçam o vínculo mãe-filho em mulheres com câncer.