Resumo:
A tese propõe a concepção de um método e de teorias de design, à luz do pensamento complexo, capazes de integrar aos seus processos ordem e desordem, abertura e fechamento, certezas e incertezas, regularidades e aleatoriedades, continuidade e ruptura, natureza e cultura, razão e imaginação. Para tanto, apresenta princípios para a regeneração do agir projetual em direção à renovação do ethos projetual, voltado à criatividade, à diversidade, ao diálogo, à fraternidade, à superação da tecnocultura, à religação de saberes e experiências dispersos e, finalmente, à projetação de novas possibilidades de viver o mundo em sociedade. O trabalho está organizado em quatro movimentos que narram o percurso teórico-metodológico da pesquisa realizada no diálogo com experiências projetuais. Parte da discussão sobre a proximidade do design da noção de forma e apresenta a ideia de uma forma-em-transformação, que estatui seu próprio sistema a cada projeto e é estatuída por ele, segundo processualidades fundadas na ordem-desordem-organização-interação. Sugere, então, o conceito de design como o processo de concepção de uma forma original que institui uma nova unidade organizada a partir do recorte da matéria pela substância. Nesse caso, o projeto seria a expressão formal do design em sua totalidade. O Primeiro Movimento retoma o conceito de sistema complexo, entendido como um todo que se transforma ao mesmo tempo em que suas partes se transformam, a partir das relações engendradas entre elas, de novas emergências, de entradas e saídas habilitadas por sua abertura organizacional. O Segundo Movimento aponta para o conceito de tempo no design como crono-cairo, ou seja, um tempo-não-tempo, que age de modo contínuo e descontínuo sobre tudo o que existe, assim como precede a existência fenomenal ao aparecer de modo oportuno nas crises e bifurcações. Associa também a ideia de acontecimento como tudo que acontece no crono-cairo e que impacta o sistema. Acontecimento, por sua vez, é a instância que permite aos acontecimentos ocorrerem, intra e ecossistemicamente. O Terceiro Movimento discorre sobre a natureza ecossistêmica dos processos de subjetivação, com o reconhecimento dos indivíduos como sujeitos bio-antropo-sociais e do movimento simultâneo de fechamento do “eu” para o “outro” (egoísmo) e de abertura do “eu” para o “outro” (altruísmo). Os dispositivos projetantes são uma trama de disposições projetuais destinada ao sujeito projetar-se, em “si” e no “outro”, para a formação de um “nós”. Por fim, o Quarto Movimento avança na compreensão do conceito de crise e de como uma situação de desestabilização sistêmica pode ser usada (ou projetada) para promover transformações. Nesse sentido, propõe a ideia de criseação: a concepção de dispositivos projetantes geradores de acontecimentos capazes de provocar desvios e/ou rupturas nos dispositivos de regulação e, por conseguinte, flutuações, bifurcações, retroações, emergências, novidade e transformação nos processos de design.