Resumo:
A presente pesquisa aborda os sentidos produzidos pelos Sistemas de Recomendações nas interfaces culturais da plataforma de streaming Netflix. Partiu-se da intuição bergsoniana (BERGSON, 2006; DELEUZE, 1999) para a compreensão dos Sistemas de Recomendações como uma virtualidade que se atualiza nas interfaces gráficas da Netflix entendidas como interfaces culturais (MANOVICH, 2001), aparentemente opacas mas repletas de sentidos na perspectiva da tecnocultura audiovisual. O movimento metodológico foi realizado através da cartografia e da flânerie (BENJAMIN, 2000) com apoio complementar de escavações em documentos técnicos e outras informações sobre a plataforma. Realizou-se um experimento no qual o território da interface cultural da Netflix foi mapeado através de capturas de telas ao longo da utilização de três perfis da plataforma cuja diferenciação se baseia na utilização de pesquisa por títulos específicos, a utilização de diferentes dispositivos e o sistema de avaliações de títulos da plataforma. O resultado dessas experimentações foi descrito através de constelações de sentido (BENJAMIN, 2009) relacionadas com critérios inferidos a partir de movimentações do Sistema de Recomendações, sendo então propostos os sentidos de transparência a partir do critério etário, sentidos de individuação através do critério regional, sentidos de nichamento através do critério de categorizações e os sentidos de ‘pegajosidade’ através do critério de exclusividade. Concluímos que existe uma ambivalência na relação estabelecida pela presença do sistema de recomendação entre usuários e a Netflix como corporação, evidente através da interface cultural, na qual interesses do usuário pendem para as primeiras constelações descritas, enquanto os interesses da Netflix tendem para as últimas.