Resumo:
Esta dissertação investiga as transformações nas práticas jornalísticas durante
a pandemia de COVID-19. O objetivo geral foi compreender como se alteraram
as práticas jornalísticas num cenário de migração para o trabalho remoto, de
intensificação do uso de tecnologias digitais e de mudanças nas rotinas
produtivas, especialmente em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no contexto da
crise sanitária global. A pesquisa foi conduzida por meio de uma abordagem
qualitativa, que incluiu entrevistas com jornalistas que vivenciaram a cobertura
da pandemia e análise documental de reportagens produzidas durante esse
período. Os resultados indicam que a pandemia acelerou o processo de
midiatização digital no jornalismo, promovendo a adaptação das práticas às
novas exigências do trabalho remoto e das plataformas digitais. Contudo, essa
transição revelou ambivalências: enquanto a tecnologia permitiu a continuidade
do trabalho e inovou processos produtivos, também intensificou a sobrecarga
emocional, precarizou condições laborais e comprometeu a profundidade de
apurações em coberturas que demandavam presença no campo. Os
depoimentos analisados destacam a resiliência dos profissionais ao improvisar
em cenários adversos, como o uso de ambientes domésticos para gravações e
a dependência de materiais enviados por fontes externas. Observa-se, ainda,
uma humanização das narrativas, marcada pela maior proximidade com o
público e pela informalidade das transmissões, embora acompanhada de
desafios no combate à desinformação, que se intensificou durante a pandemia.
A COVID-19 não apenas acelerou transformações já em curso no campo
jornalístico, mas também expôs fragilidades estruturais e emocionais na prática
profissional. A pesquisa contribui para a compreensão das mudanças no
jornalismo em cenários de crise e ressalta a necessidade de equilibrar inovação
tecnológica com valores fundamentais da profissão, como ética, veracidade e
compromisso público.