Resumo |
Este trabalho tem como objetivo propor uma análise dos sentidos produzidos pelo uso dos subsistemas do marco temporal pretérito (pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito e futuro do pretérito), de forma a mostrar que essas formas verbais, assim como outros recursos linguísticos, marcam a presença do locutor no discurso. O estudo ancora-se, principalmente, na Teoria da Enunciação de Émile Benveniste, segundo o qual toda vez que o locutor enuncia, propõe-se como sujeito (eu) e instaura um tu, buscando levá-lo a partilhar sua visão de mundo (referência), em um aqui-agora (espaço-tempo). Benveniste postula que, ao construir o aparelho formal da enunciação, o locutor se vale de índices específicos (dêiticos) e de procedimentos acessórios, nos quais se enquadram os tempos verbais. A análise também se apoia nas contribuições do gramático Evanildo Bechara (2001) e dos linguistas Ataliba de Castilho (2010), Luiz Carlos Travaglia (2003) e Maria Helena de Moura Neves (2018), os quais abordam os valores semântico-discursivos produzidos pelo uso de diferentes subsistemas do pretérito. Como o objeto de estudo é uma notícia publicada na Folha de São Paulo, recorreu-se às reflexões de Patrick Charaudeau (2019) sobre o gênero notícia. A metodologia segue o percurso apresentado por Émile Benveniste (1989): são analisados o ato de enunciação, a situação em que ocorre esse ato e os recursos linguísticos mobilizados pelo locutor. O desenvolvimento do trabalho permite concluir que, mediante o uso dos subsistemas do marco temporal passado, em uma relação de sintagmatização no texto, o locutor gera sentidos (semantização) e constrói a referência no discurso. Defendemos a tese de que o estudo de flexões verbais nas aulas de Língua Portuguesa não deve restringir-se à memorização de regras de conjugação, mas concebendo os tempos e modos verbais como marcas linguísticas que significam os textos em diferentes situações de uso.; |