Resumo:
As plataformas digitais tiveram grande crescimento na última década, organizando transações econômicas entre pares e impactando vários domínios. Essa trajetória é marcada por controvérsias, pois, ao mesmo tempo em que as plataformas digitais geraram grande volume de riqueza ao mobilizar prestadores de serviço e recursos privados, o crescente domínio de empresas globais fomentou uma reação de contestação. Em vista disso, a organização de plataformas tem sido repensada, sendo apontadas muitas direções futuras. Uma dessas direções prescreve a organização de plataformas digitais segundo uma orientação cooperativa, na qual os próprios trabalhadores serão os responsáveis pela gestão e organização do modelo, bem como pela definição das regras às quais estarão submetidos. As plataformas cooperativas são colocadas como uma alternativa capaz de reorientar operações na economia do compartilhamento, mas existem uma variedade de formatos para se organizar essas iniciativas. O presente estudo buscou, então, compreender os elementos organizacionais das plataformas digitais cooperativas. Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, com estudos de caso em três plataformas cooperativas do setor de mobilidade urbana, organizadas pelos próprios motoristas. O estudo identificou que as plataformas cooperativas mobilizam elementos organizacionais para estabelecer uma ordem social decidida, incluindo os cooperados no processo decisório. Contrariando proposições anteriores de que as plataformas cooperativas podem ser consideradas como organizações parciais, que não mobilizam elementos organizacionais por se valerem da ordem social do ambiente, verificou-se que as plataformas cooperativas são organizações formais estruturadas pelos elementos organizacionais delineados na abordagem de organização parcial, a saber: associação, hierarquia, regras, monitoramento e sanções. Embora as plataformas cooperativas tenham se estabelecido a partir de relações sociais nas quais já havia aspectos de ordem, a decisão sobre elementos organizacionais fez dessas iniciativas organizações formais completas. Destaca-se que o estudo sugere o elemento organizacional da Associação como o primário para o estabelecimento de plataformas cooperativas. Ao decidir sobre elementos organizacionais, as plataformas cooperativas passam a atuar como organizadoras de mercados de compartilhamento, permitindo a interação entre provedores e usuários e regulando as transações entre pares, com a participação de partes interessadas no processo decisório. O estudo acrescenta à literatura evidências empíricas de um contexto que tem sido amplamente discutido, mas que ainda carece de experiências práticas. O estudo sugere que associação e hierarquia são elementos organizacionais proeminentes e que os demais elementos se manifestam no mercado de compartilhamento organizado na periferia das plataformas cooperativas.