Resumo |
Segundo Émile Benveniste, a linguagem, a subjetividade e a
intersubjetividade são inerentes ao homem. Em outras palavras, o homem, por meio
da linguagem, explicita a sua subjetividade e, ao instaurar-se como sujeito, torna-se
também, automaticamente, intersujeito. Com base nesse postulado, o objetivo do
presente trabalho é mostrar que, na língua em funcionamento, o locutor deixa
rastros de sua presença no discurso, por meio dos quais produz sentidos e revela
seu “mundo” (a referência). Para tanto, focaliza-se o uso do substantivo em duas
notícias, a fim de mostrar que essa forma linguística, em sua sintagmatização com
outras formas, faz emergir a intersubjetividade, promovendo semantizações e
referência. O principal suporte teórico deste estudo é a Teoria da Enunciação de
Émile Benveniste, a qual defende que toda enunciação implica um eu-tu-aqui-agora.
A fim de contemplar, mais especificamente, as funções semântico-discursivas que
podem ser desempenhadas pelo substantivo, consultaram-se: (i) alguns gramáticos
considerados tradicionais − Rocha Lima (2005), Cegalla (2008), Cunha e Cintra
(2008) e Bechara (2004) − os quais mencionam, principalmente, a função
nomeadora dessa classe gramatical; (ii) alguns linguistas que contemplam a função
adjetivadora do substantivo, como Moura Neves (2000 e 2018), Ataliba de Castilho
(2014), Vilela e Koch (2001), Basilio (2004) e Perini (2005); (iii) as linguistas
Ingedore Koch e Vanda Elias (2018), que abordam a função referenciadora das
expressões nominais, cujo núcleo é o substantivo. A metodologia adotada segue o
percurso proposto por Benveniste (1989): contempla-se, sucessivamente, o ato
enunciativo, a situação em que ele se realiza e os instrumentos de sua realização. O
caráter da pesquisa é qualitativo, e a amostra contempla duas notícias publicadas
nos veículos de comunicação Jornal El País Brasil e Revista Época. A análise
evidencia que o substantivo, em sintagmatização com outras formas linguísticas −
geralmente o adjetivo −, não cumpre apenas uma função nomeadora, podendo ser
também adjetivador (qualificador ou especificador) e referenciador textual. Mediante
o uso de substantivos, em suas sintagmatizações, o locutor gera sentidos e age
sobre o alocutário, buscando levá-lo a partilhar a mesma referência (visão de
mundo). Em relação à construção do referente mulher, constata-se que os locutores
de ambas as notícias, a partir do uso de substantivos ou outros recursos linguísticos,
emitem julgamentos, por vezes negativos, acerca das condutas femininas.; |