Resumo |
O estado do Rio Grande do Sul é um caso bastante curioso em relação ao
restante do Brasil. Fundamentado sob uma cultura extremamente forte e
diferenciada em relação à dos demais estados brasileiros, o caráter regionalista de
muitas de suas obras literárias deixa bem evidente a construção e divulgação de um
tipo social que se pretende amplamente distinto dos demais representantes
brasileiros. Portadores de um dos títulos gentílicos mais defendidos do país, os
gaúchos são a semântica transformada em indivíduo vivo e orgulhoso de suas
tradições. Desde as primeiras referências a esse povo, foram várias as acepções de
significado atribuídas ao termo “gaúcho” no decorrer da história. De malfeitores,
perturbadores da ordem e desocupados a monarca das coxilhas e simples resquício
rural condenado às margens da ignorância pelo escárnio da modernização citadina.
Em uma tentativa de verificar a ciclicidade da visão deturpada desse tipo social,
analisou-se algumas das obras cujos protagonistas são constituídos da
representação do gaúcho após sua desmonarquização, levando em consideração,
também, os efeitos que sofreram com a expansão do latifúndio. Para tanto, buscou se encontrar, nessas obras literárias, relações de semelhança para com a visão
caricaturizada do caipira – aqui compreendido como todo e qualquer homem do
campo – evidenciada na figura de Jeca Tatu. Observada a precariedade de estudos
acerca das representações literárias mais contemporâneas do tipo sul-rio grandense, foram selecionadas obras mais recentes, que contemplam o estágio do
gaúcho a pé e suas versões subsequentes e que melhor se encaixaram nos
objetivos desta pesquisa, a fim de investigar a presença, nelas, de caracteres que
aproximem esse novo sujeito gaudério com o pobre homem do campo evidenciado
na figura de Jeca Tatu. A possibilidade de encontrar associações com um tipo social
comumente alvo de ridicularização reforça o quão desvalorizado o gaúcho tem se
tornado após seu curto período de reinado.; |