Resumo:
A aliança terapêutica (AT) é um fator comum das psicoterapias e um preditor de resultado positivo de tratamentos. Através da investigação de processos (ao longo do tratamento) e de microprocesso (análise pormenorizada das sessões) se pode compreender quais elementos fortalecem e/ou enfraquecem a AT. As rupturas da AT são caracterizadas por uma falta de colaboração, e situações de tensão ou colapso no relacionamento terapêutico. A presente dissertação de mestrado introduz no Brasil a avaliação e identificação das rupturas da AT, que leva em conta a natureza dinâmica microprocessual, específica, e detalhada das oscilações da AT durante o tratamento e/ou uma sessão, através do sistema do Rupture Resolution Rating System - 3R’s. O 3R’s identifica a ocorrência das rupturas, em segmentos da sessão e oferece uma categorização global das rupturas da sessão, e de cada marcador encontrado. O sistema permite a avaliação do grau de impacto global das rupturas ao longo do tratamento, em cada sessão, e é utilizado para avaliação de estratégias de resolução destas rupturas. A dissertação está organizada em dois artigos, sendo um teórico e outro empírico. O primeiro artigo descreve como funciona este sistema de codificação da AT e discute as suas implicações clínicas e de pesquisa, ilustrando sua aplicação com vinhetas de um caso de abandono em psicoterapia psicanalítica (PP), que é alvo do estudo empírico. As contribuições deste instrumento para a pesquisa e prática clínica são discutidas. O artigo empírico aplica a o sistema 3R’s para identificação das rupturas e impacto destas sobre a AT em conjunto com o Psychotherapy Process Q-Set (PQS), instrumento que descreve o processo terapêutico global. O objetivo do estudo foi explorar os processos de ruptura da AT em um caso interrompido de PP de um paciente com diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline. O processo se caracterizou por múltiplas faltas e atrasos. De modo geral, se observou uma predominância de rupturas de evitação, caracterizada pelo aumento da frequência a partir da 5ª sessão e posterior diminuição destas nas sessões finais (11ª e 15ª). As sessões que antecedam o abandono do tratamento (11ª, 12ª e 13ª), foram marcadas pela menor frequência de rupturas, e apresentaram impacto moderado na AT. A terapeuta contribuiu para a ocorrência das rupturas, principalmente nas sessões 5ª, 6ª e 9ª, sessões que apresentaram um maior número de rupturas do tratamento. Em conjunto, estes fatores parecem ter relação com o abandono. Para melhor compreensão do caso, é necessária a avaliação das estratégias de resolução utilizadas pela terapeuta. O sistema 3R’s deverá futuramente ser utilizado para examinar o microprocesso da AT em outros casos semelhantes e em estudos comparativos de casos com distintos diagnósticos, abordagens e desfechos.