Abstract:
A telemedicina se caracteriza por ser um conjunto de diferentes serviços de saúde, que são realizados a distância, sendo uma promissora ferramenta no desenvolvimento social, por meio de assistência ampliada à saúde. No entanto, ainda não há consenso, na literatura, sobre os fatores que influenciam a aceitação e difusão destas práticas. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores que influenciam a aceitação da telemedicina, mais especificamente, das teleconsultas, por parte de médicos, e compreender como fatores institucionais e o trabalho institucional destes profissionais atuam de maneira a difundir ou a barrar a aceitação destas práticas. Este trabalho se utiliza de um estudo de caso único, com abordagem qualitativa; com coleta de dados por meio de entrevistas semi estruturadas, análise de vídeos de audiências públicas, de plataformas digitais, além de documentos diversos como portarias, leis e reportagens de veículos de comunicação, entre outros. A análise dos dados foi realizada em dois ciclos, com métodos mistos de codificação. Como resultados da pesquisa, inicialmente foram identificados 13 fatores que influenciam a aceitação da telemedicina/teleconsultas pelos médicos. Oito destes fatores haviam sido identificados previamente na literatura, sendo eles: Fatores Regulatórios, o Grau de Instrução e Preparo dos Usuários, a Resistência à Mudança, a Infraestrutura Tecnológica, a Percepção de Valor, as Características Organizacionais e a Disponibilidade Financeira. Outros cinco fatores de aceitação, não encontrados na literatura prévia, emergiram dos dados coletados no contexto brasileiro: o Corporativismo, as Possibilidades por Especialidades, o Exame Físico Presencial, a Mercantilização da Telemedicina, e a Relação Médico-Paciente Pregressa. Todos esses fatores foram então discutidos à luz da Teoria Institucional e do Trabalho Institucional. Com isso, foi possível verificar que a Teoria Institucional possibilita visões ampliadas que relacionam esses fatores entre si e que revelam novas relações e similaridades diferentes daquelas já realizadas por meio de teorias de difusão e aceitação de inovações, verificadas na literatura prévia. Assim, os Pilares Cultural/Cognitivo, Normativo e Regulativo são relacionados a aspectos que correspondem à base da relação entre os fatores, como Desconhecimento, Estrutura e Regulamentação, respectivamente. Por fim, o Trabalho Institucional para a manutenção da instituição das consultas presenciais foi analisado, sendo que as práticas de Policiamento e Determinação, já apontadas na
literatura, se mostraram presentes no contexto pesquisado, mas duas novas formas de trabalho institucional foram identificadas e são definidas: a de Difamação e a de Postergação. Este trabalho contribui com as pesquisas em Administração por gerar compreensão sobre a forma com que determinadas classes profissionais influenciam a aceitação e a difusão de inovações e tecnologias por meio das práticas de trabalho institucional. Para as organizações do setor de saúde, mostra possibilidades acerca de uso e implantação de teleconsultas. Já para a sociedade, oportuniza melhor entendimento dessas práticas, que podem contribuir para uma ampliação da assistência dos serviços de saúde.