Resumo:
Esta tese investiga os sentidos sobre a violência armada, acionados pela vigilância compartilhada do laboratório de dados Fogo Cruzado. Por meio de uma plataforma colaborativa na web, a equipe georreferencia em mapas abertos acontecimentos que envolvem tiroteios no Rio de Janeiro e em Recife. Com base na noção comunicacional de sistema de relações, reflete-se sobre interações territoriais com o atual contexto de redes digitais para pensar o vigiar como um conceito articulador, cujo foco específico de estudo intitulamos de vigilância compartilhada. Metodologicamente, o trabalho se situa no âmbito do paradigma indiciário, com uma abordagem processual semiótica para captar os rastros deixados por semioses sobre a violência armada nas plataformas digitais. O resultado dessa incursão é a concepção de territorialidades semióticas, que traduzem modos tendenciais de sentidos engendrados por este vigiar compartilhado. O percurso metodológico se divide em compreender as processualidades da vigilância compartilhada, desvendar o percurso acontecimental dos tiroteios, identificar os modos de semiotização da plataforma, analisar os enquadramentos da violência armada e mapear as territorialidades semióticas engendradas pelo laboratório de dados. A guerra entre facções, milícias e polícias seria um inibidor de qualquer espécie de monitoramento. No entanto, um dos efeitos de sentido das redes digitais, o anonimato, viabiliza a identificação de territórios em conflito. Assim, destaca-se o papel orientacional executado neste sistema de relações através de um vigiar compartilhado, articulado pelo laboratório de dados Fogo Cruzado. Em particular, a noção ampla que esta característica apresenta por se posicionar também como um observatório social, construído em várias interfaces (jornalísticas, científicas e colaborativas) que georreferenciam a violência armada e a colocam em debate com a sociedade.