Resumo:
Com a presente tese, proponho compreender de que forma práticas de escuta acolhidas em subgêneros de rock independente da cidade de Curitiba se atualizaram entre os anos de 2016 e 2020. Para enfrentar o problema da pesquisa, parto de abordagens etnográficas on e off-line (ANGROSINO, 2009; HINE, 2015a), desdobradas em técnicas de observação/escuta participante, consultas em audiovisuais e entrevistas semi-estruturadas com músicos, fãs e produtores de conteúdo sobre rock independente da capital paranaense. No âmbito teórico, o trabalho se orienta através do diálogo entre as chamadas Materialidades da Comunicação (GUMBRECHT, 1994 e 2010; PEREIRA de SÁ, 2016) e os Estudos de Som (PEREIRA de SÁ, 2010; STERNE, 2012; STEINTRAGER e CHOW, 2019), pensados aqui como parte de uma “agenda materialista” do estudo das intersecções entre comunicação, mídia, som e música. Diante da proliferação de projetos musicais em subdivisões específicas do indie como gêneros post (rock, hardcore, metal), shoegaze e dream pop em um contexto de consolidação da plataformas de streaming de áudio como forma dominante de escuta musical, o argumento é de que as práticas de escuta (NOVAK, 2008) locais do rock independente curitibano, apesar da permeabilidade das mídias digitais, se desdobram em processos complementares e articulados de 1) Técnicas autodidatas de audibilidade gestadas em contextos domésticos; 2) Produção de espaços privados de escuta no ambiente urbano; 3) Dominâncias sônicas introspectivas em contextos de co-presença espacial e temporal das apresentações ao vivo; 4) Micro-sociabilidades da circulação a partir das materialidades sonoras. Tais modos de escuta, que são indícios de um regime aural moderno mais amplo, operariam de forma retroalimentada atualizando práticas de escuta historicamente constituídas de tais subdivisões do rock independente em um contexto global.