Resumo:
Para entender melhor as origens e as essências das narrativas jornalísticas, o trabalho retorna para o período das Grandes Navegações, quando múltiplos escritos de uma literatura experimental foram feitos sobre a expansão ultramarina europeia nos séculos XV e XVI, especialmente tratando dos descobrimentos do continente americano. Por essa ótica, toma-se os textos de Cristóvão Colombo, Pero Vaz de Caminha e Antonio Pigafetta como manifestações pré-jornalísticas, que contaram o novo e os seus acontecimentos em formas embrionárias de notícias e reportagens, como defendem Maria Cecília Guirado e José Marques de Melo. A ideia também se concentra em analisar como essas narrativas operaram no imaginário com questões temporais, estruturais e simbólicas, aplicando os conceitos filosóficos de Paul Ricoeur sobre nossas reconfigurações de acordo com as práticas comunicacionais, voltando o seu olhar para como o jornalismo, de ontem e de hoje, opera. Com isso, a pesquisa compreende o campo noticioso, mesmo em seu momento prévio, como um produtor de sentidos, conhecimentos e referências, crucial para nossa localização dentro do mundo e em nossa cronologia, tendo a capacidade de sedimentar camadas em nossa memória. Da mesma forma, quer-se promover a narrativa jornalística como um reflexo das relações sociais vigentes em suas épocas, repletas de enquadramentos e pré-concepções miméticas, como o eurocentrismo dentro das representações do Outro na Era dos Descobrimentos, ato que iria encadear no genocídio dos povos nativos da América nos anos seguintes e projetar problemáticas antropológicas que nos rondam até hoje, respingando inclusive na prática da profissão noticiosa que viria a se formar. Assim, se realiza um exercício de retrospecção muito pensado em ajudar na elucidação de nosso presente.