Resumo:
Durante o Mioceno, ocorreram diversas incursões marinhas sobre o continente Sul-Americano. Oscilações no clima provocaram retração ou expansão da cobertura de gelo das áreas polares, causando variações do nível do mar registradas em áreas costeiras como eventos transgressivos/regressivos. Na costa sudeste do Uruguai, no Departamento de Colonia, afloram depósitos de uma destas ingressões marinhas, denominada “Mar Entrerriense”, e seus depósitos caracterizam a Formação Camacho, de idade Mioceno tardio. Buscando melhor entender as condições paleoambientais e a configuração paleoclimática registradas pelos estratos da Formação Camacho, o presente estudo apresenta uma análise de alta resolução multi-proxy, aplicando análises de FRX (florescência de Raios-X), COT (carbono Orgânico Total), TS (Enxofre Total), conteúdo de carbonatos, refletância espectral e análises de fácies e icnológicas, dos depósitos aflorantes no sudoeste do Uruguai. Os resultados sugerem deposição em ambientes marinhos rasos, com águas bem oxigenadas, e sob a influência de processos de energia moderada a baixa, com deposição afetada por correntes de maré e eventos de tempestade. Os registros das razão hematita/goetita, log(Zr/Rb), log(Ti/Rb) e Sr/Ba, sugerem uma tendência de raseamento para o topo da seção marinha da Formação Camacho na área de estudo, acompanhada de tendência de maior proximidade em relação à área fonte, do estabelecimento de paleoclimas mais úmidos e da maior influência de aporte de água doce em direção ao topo da seção, o que é corroborado pelas mudanças no padrão das icnofábricas. Os padrões sedimentares e geoquímicos descritos nesse estudo para a Formação Camacho estão provavelmente relacionados ao resfriamento de altas latitudes e à consequente queda do nível do mar iniciados há ~7.2 Ma.