Resumo:
A ampla distribuição geográfica de algumas espécies sesseis ou com baixa
capacidade de auto locomoção que habitam sistemas aquáticos continentais isolados
sempre foi um enigma ecológico. A dispersão passiva através de um vetor de transporte
é a principal explicação para entender a dispersão entre áreas úmidas e neste processo as aves aquáticas desempenham um papel de destaque. Ao contrário de outras regiões
biogeográficas, na região Neotropical os estudos sobre a dispersão promovida por aves
aquáticas são escassos. Nesta tese são apresentados estudos abordando a importância das aves aquáticas para a dispersão de plantas, invertebrados e peixes na região neotropical. Foram realizadas coletas de dados em campo e experimentos ex situ. Em relação aos diásporos de plantas, foi possível identificar que a dispersão depende da interação entre a espécie de ave e a estação do ano. Ainda sobre plantas, comprovou-se que uma angiosperma inteira (Wolffia columbiana) sobrevive à passagem pelo trato digestivo de cisnes e marrecas, representando um meio dispersão até então não conhecido para plantas. Em relação aos invertebrados, a dispersão promovida por aves está associada à espécie de ave, não sendo encontrado efeito da estação ou do peso das amostras. Por último, foi comprovado que ovos de peixes-anuais (Rivulidae) continuam seu desenvolvimento e eclodem mesmo após serem ingeridos e expelidos por uma ave, representando uma forma de dispersão desconhecida para vertebrados. Nesta tese é demonstrado que a endozoocoria promovida por aves é fundamental para compreender a dinâmica de dispersão de organismos aquáticos em áreas úmidas neotropicais.