Resumo:
Muitas são as ameaças ao Bioma Mata Atlântica, como exemplo a fragmentação, a qual
representa uma ameaça à diversidade de Lepidoptera. As borboletas frugívoras correspondem a um grupo taxonômico numeroso, fiéis aos seus hábitats, bem conhecidas e rapidamente amostradas. A diversidade de borboletas frugívoras é influenciada pelas variáveis abióticas e bióticas. A tese apresenta informações sobre 1) a lista de espécies de borboletas frugívoras e análise da composição (similaridade), 2) análises da composição e diversidade (abundância e riqueza de espécies), 3) influência das variáveis abióticas e bióticas na composição, abundância e riqueza de espécies de borboletas frugívoras amostradas em Unidades de Conservação (UC) e respectivos fragmentos florestais adjacentes (FF), em Floresta Ombrófila Mista, na Região Oeste de Santa Catarina, Brasil. O estudo foi realizado na Floresta Nacional de Chapecó (FLONA), Estação Ecológica Mata Preta (ESEC) e Parque Estadual das Araucárias (PAEAR), e respectivos fragmentos florestais adjacentes. As borboletas frugívoras foram coletadas utilizando-se armadilhas Van Someren-Rydon. As coletas ocorreram entre dezembro de 2017 e março de 2018, totalizando 24 dias de amostragem. Foram registradas
4231 borboletas frugívoras pertencentes a quatro subfamílias, 12 tribos e 49 espécies. Na
FLONA foram registradas 37 espécies e 29 nos FF; na ESEC 29 espécies e 33 nos FF, e no PAEAR 33 espécies e 28 nos FF. Das espécies registradas, 15 espécies são novos registros para Santa Catarina e 10 são novos registros para a Região Oeste do estado. As espécies mais abundantes no estudo foram: Manataria hercyna (Hübner, [1821]), Hermeuptychia sp., Yphthimoides ordinaria Freitas, Kaminski & Mielke, 2012, Forsterinaria quantius (Godart, [1824]), Eryphanes reevesii (Doubleday, 1849), Moneuptychia soter (Butler, 1877) e Morpho epistrophus (Fabricius, 1796). Satyrinae apresentou maior riqueza (S=34) e abundância (90.58%) em todas as áreas amostradas. A cobertura estimada de amostragem para as UC e fragmentos florestais ficou acima de 97%. A abundância e riqueza de espécies de borboletas frugívoras diferiram entre as unidades de conservação e seus fragmentos florestais adjacentes, e a composição mostrou-se alterada, com perda de espécies de um ambiente para outro. Houve um padrão agrupado separando as amostras das UC e FF. Tanto a similaridade quanto
à abundância e composição das espécies variou de 50 a 55%. As espécies de borboletas
frugívoras amostradas apresentaram uma variação de ocorrência nas amostras de 85,23% na Floresta Nacional de Chapecó, 75,92% na Estação Ecológica Mata Preta e 66,28% no Parque Estadual das Araucárias. Observou-se aninhamento das assembleias na Floresta Nacional de 2 Chapecó e Parque Estadual das Araucárias e respectivos fragmentos adjacentes. A abundância e riqueza de espécies de borboletas frugívoras da FLONA e PAEAR estiveram correlacionadas positivamente como umidade relativa do ar, temperatura e luminosidade. As variáveis abióticas explicaram entre 23,3% e 39,1% das assembleias de borboletas frugívoras, sendo a luminosidade e a umidade relativa do ar as variáveis significativas. Houve uma relação positiva entre a riqueza de espécies de borboletas frugívoras e a altura e abertura do dossel, e em relação à abundância de borboletas frugívoras e a abertura do dossel para as áreas da FLONA. Para a ESEC houve correlação positiva entre a abundância e riqueza de espécies e a abertura do dossel. A composição de borboletas frugívoras na FLONA variou com a altura
e abertura do dossel e na ESEC variou com a abertura do dossel. A abundância de borboletas frugívoras relacionou positivamente com o nível de isolamento da FLONA e foi negativa com a área. O estudo contribuiu para o conhecimento e caracterização da guilda de borboletas frugívoras do estado de Santa Catarina. A fauna de borboletas frugívoras da Região Oeste de Santa Catarina, investigada pela primeira vez em áreas de UC, mostrou-se expressiva e bem representativa para o Bioma Mata Atlântica. Além disso, enfatiza-se o importante papel das UC na manutenção da diversidade de borboletas frugívoras em FF e a relevância das variáveis ambientais. Constata-se a necessidade da conservação dos fragmentos florestais adjacentes em paisagens altamente fragmentadas, muito comuns na Mata Atlântica, evitando a perda da diversidade de borboletas frugívoras. Constatou-se a necessidade de outros inventariamentos e
estudos direcionados a compreensão das relações entre as espécies de borboletas frugívoras e a influência de outras variáveis ambientais principalmente num cenário de degradação ambiental e alteração climática global. Contudo, espera-se que esse conhecimento seja útil para a elaboração de futuros planos de manejo e conservação da fauna de borboletas subtropical em Floresta Ombrófila Mista no sul do Brasil.