Resumo:
Uma das principais questões que desafia a ecologia é conhecer como os diferentes fatores históricos, locais, regionais e a capacidade de dispersão das espécies determinam a estrutura e a dinâmica das comunidades biológicas. Tradicionalmente, os processos locais são utilizados para elucidar a estrutura das comunidades, no entanto, nos últimos anos a ecologia de metacomunidades busca integrar aos fatores locais, os fatores regionais, enfatizando a importância da dimensão espacial em estudos de ecologia. Através da exploração dos fatores locais e regionais sobre os ecossistemas aquáticos é possível indicar as consequências das mudanças antrópicas e trabalhar na conservação dos ecossistemas aquáticos, com políticas de conservação eficientes. Nesse sentido, estudos abordando a possível dinâmica de mudanças em áreas úmidas tornam-se indispensáveis, principalmente considerando as metacomunidades fitoplanctônicas que manifestam uma rápida resposta às mudanças ambientais. Baseado nesses pressupostos, o objetivo geral dessa tese foi analisar a estrutura do fitoplâncton em um gradiente espacial de áreas úmidas da planície costeira do sul do Brasil, verificando o padrão de distribuição da comunidade, a sua estrutura funcional baseada em grupo funcionais morfológicos (MBFG), e a contribuição das variáveis locias e regionais. Foram realizadas coletas entre os meses de maio e junho de 2017 em 15 áreas úmidas da planície costeira do Rio Grande do Sul abrangendo uma extensão de 560 Km. Em relação aos principais resultados obtidos, foram identificadas 114 espécies distribuídas em nove classes fitoplanctônicas. Verificou-se um padrão de distribuição da comunidade contrário ao aninhamento (anti-nested), o qual se correlacionou principalmente com a variável STD (sólidos totais dissolvidos), que tende a promover a limtação de luz interferindo na capacidade fotossintética das microalgas. A classe Zygnematophyceae apresentou o maior valor de riqueza total e o maior valor de biomassa total. O grupo morfofuncional IV (pequenos organismos não flagelados) foi o mais representativo em número de espécies, enquanto o grupo morfofuncional VII (grandes colônias mucilaginosas) apresentou os maiores valores de biomassa. Em relação à abordagem de metacomunidades, observamos que há influência dos fatores locais e regionais. O decaimento da similaridade com a distância e o padrão anti-nested sofrem o efeito do espaço evidenciando uma limitação da dispersão de espécies. Os fatores locais e regionais tendem a contribuir para os padrões observados e mostram uma estruturação espacial das comunidades fitoplanctônicas nas áreas úmidas estudadas sendo influenciadas principalmente por espécies que dominam ambientes rasos com domínio de macrófitas. Considerando a composição total de espécies, a turbidez foi a única variável que esteve associada com a estrutura da comunidade. Em relação às classes taxonômicas, houve a formação de diferentes agrupamentos de acordo com a classe analisada, onde os melhores ajustes contiveram urbanização, nitrito, área, oxigênio e STD. Os resultados do presente estudo destacam quão dinâmicas e complexas são as comunidades fitoplanctônicas, havendo expressivo aumento do conhecimento sobre os fatores que influenciam as comunidades de microalgas em áreas úmidas naturais subtropicais.