Resumo:
A partir da premissa de que experiências precoces de apego com o cuidador primário (mãe) podem ter influência no surgimento ou agravamento de quadros psicopatológicos como o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH, desenvolveram-se dois estudos, um teórico e um empírico que deram origem a três artigos. O primeiro artigo revisa a literatura existente sobre TDAH infantil e teoria do apego, a partir de buscas por estudos teóricos e empíricos na literatura internacional e nacional. No Brasil, não foi encontrado nenhum artigo diretamente associado à temática. A revisão indica que o TDAH infantil pode estar associado à instabilidade nas relações de apego precoce. O segundo artigo apresenta um estudo exploratório, quantitativo, transversal e comparativo do tipo caso-controle que verificou diferenças um grupo de 30 mães de crianças com TDAH e 30 mães de crianças com desenvolvimento típico quanto à Função Reflexiva, mentalização e vinculação materna. Os instrumentos utilizados foram Reflective Functioning Questionnaire (RFQ) e Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal (EMRI) para avaliar Função Reflexiva e Inventário de Percepção de Vinculação Materna (IPVM) para avaliar vinculação materna. Verificou-se que o grupo de mães das crianças com o diagnóstico de TDAH apresentou diferença significativa em relação ao grupo controle quanto à incerteza em relação aos estados mentais, refletindo baixa mentalização em relação ao grupo comparado. As mães de crianças com TDAH, portanto, apresentaram menor capacidade de função reflexiva que as mães de crianças com desenvolvimento típico. O terceiro artigo foi de abordagem qualitativa através de um estudo de casos múltiplos com cinco díades compostas por crianças com TDAH e suas mães, as amostras derivadas por conveniência do primeiro estudo empírico. Foram avaliadas as representações mentais das crianças em relação a suas mães e destas em relação a sua história e vínculo com a criança. Os instrumentos foram: entrevista de mentalização e representações mentais de história de vida com as mães; a Escala Global e Escala de Frequência de Sinais Específicos aplicada ao Desenho da Família e o MacArthur Story Stem Battery (MSSB) aplicados nas crianças. Constatou-se que aspectos transgeracionais estão presentes nas representações internas de apego e que situações traumáticas de estresse excessivo, abandono ou instabilidade nos vínculos com cuidadores na infância associam-se à insegurança de apego e a dificuldades no desenvolvimento. Tais achados sugerem que situações precoces de estresse e abandono, vivenciadas na infância, podem estabelecer transmissão transgeracional de representação de apego inseguro, interferindo no vínculo mãe e criança e causando prejuízos no desenvolvimento. Em conjunto, os achados da presente tese permitem concluir que há indicativos de que boas condições de função reflexiva e mentalização em mães podem ser essenciais no desenvolvimento de representação de apego seguro na criança. Sendo esta condição protetiva, frente a dificuldades no desenvolvimento e surgimento de Psicopatologias diversas, tais como o TDAH. Apesar de vasta literatura internacional sobre as repercussões do apego no TDAH infantil, ainda são escassos os estudos no Brasil, o que representa uma necessidade de ampliação de pesquisas sobre essa temática.