Resumo:
O Brasil é o país em que a taxa de assassinatos da população trans é a mais alta do mundo. Entendendo o trabalho como uma das possíveis formas de desmarginalização desta população no país, a presente pesquisa, de caráter qualitativo e exploratório, inserida no paradigma fenomenológico, visa a compreender como profissionais trans e líderes percebem o preparo das organizações e das lideranças para lidar com a presença de trabalhadores trans nas organizações. Para tanto, utilizando como referencial teórico a gestão da diversidade, publicações sobre profissionais trans e trabalho e pressupostos acerca da temática de gênero e de lugar de fala, foram realizadas 15 entrevistas semiestruturadas, sendo nove delas com profissionais trans e seis delas com líderes e profissionais da área de gestão de pessoas. As entrevistas foram analisadas a partir da Análise Crítica de Discurso, usando o modelo tridimensional de Fairclough (2002). Os resultados encontrados apontam que há pouco preparo por parte de líderes e de organizações para lidar com a presença de profissionais trans nas organizações e que aos profissionais trans é atribuído, muitas vezes exclusivamente, o papel de educador de gênero nos contextos organizacionais. Formas de mudar tal realidade passam por propiciar espaços de fala e de escuta para profissionais trans nas organizações e nos times de trabalho, desonerar os profissionais trans da necessidade de cumprirem com exclusividade o papel de educadores de gênero em seus locais de trabalho e legitimar a existência trans na cultura organizacional, através de valores voltados à diversidade, à igualdade e à inclusão.