Resumo:
O objetivo deste trabalho é o estudo da produção de sentidos identitários nas imagens técnicas do YouTube. Para tanto, optamos pela busca por América Latina, seguindo trilhas estabelecidas pelo site e criando novos percursos para explorar os territórios menos visíveis. Inspirados na percepção de sentidos identitários de latinidade presentes no vídeo mais visto do YouTube até o momento, Despacito (LUIS FONSI, 2017a), desbravamos os modos pelos quais o site opera e constrói seus territórios de experiência e de significação. Ethicidades, molduras e imaginários (KILPP, 2003) são concepções basilares para a pesquisa, que parte da perspectiva tecnocultural (FISCHER, 2013; McLUHAN, 2007; FLUSSER, 2013; BENJAMIN, 2012). Outros conceitos contribuem para que possamos mapear as qualidades técnicas do YouTube e compreender as suas formas de produzir sentidos identitários. Trabalhamos, ainda, com algoritmos (PARISER, 2012), com montagens (EISENSTEIN, 2002; MANOVICH, 2005) e com o audiovisual na web (MONTAÑO, 2015). Como proposta metodológica, concebemos um itinerário de análise para os meios e as mensagens. Iluminados pela figura do flâneur, percorremos o site e encontramos quatro grandes passagens (BENJAMIN, 2009) – que entendemos enquanto territórios densos e complexos, que recuperam diferentes imaginários e tensionam uma série de fronteiras até então consolidadas. Identificamos como passagens: 1) a página inicial – espaço seguro para o usuário e armazém infinito de vídeos; 2) a barra de busca – facilitadora e amigável, um transporte para novos espaços; 3) os canais e as páginas dispersas – que sugerem constantemente novos links aos usuários; e 4) a lista de vídeos mais vistos – que reforça a quantidade de acessos ou cliques como um modo de agir na plataforma. Em cada território, consideramos diversos elementos do YouTube, dos conteúdos à interface e aos algoritmos. Percebemos a presença, ainda que com tensões, de outras mídias audiovisuais, como o cinema e a televisão. Os construtos midiáticos que vemos, de Brasil, de México e de América Latina, são passagens para o próprio YouTube e os seus mundos, programados por algoritmos, interfaces, configurações, links etc. Como essas mesmas passagens estão presentes em inúmeras outras plataformas, enformando a nossa percepção, são, igualmente, imagens da tecnocultura contemporânea.