Resumo:
Este trabalho se propõe a investigar e analisar os sentidos que emergem no Twitter a partir da cobertura jornalística da violência contra as mulheres. Para tanto, nos debruçamos sobre o caso do estupro coletivo de uma adolescente ocorrido no Rio de Janeiro em maio de 2016 e trabalhamos considerando as tramas que se estabelecem entre o discurso de veículos de comunicação da mídia hegemônica e aquilo que dizem os atores nas redes sociais na Internet. Procuramos trazer para o debate, tensionando as narrativas, desde conceitos-chave do jornalismo, como as teorias do acontecimento, até contribuições dos Estudos de Gênero, que nos permitiram analisar os discursos e sentidos articulados e sua relação com os dados a respeito da violência de gênero no Brasil. Utilizamos como metodologia para evidenciar e produzir inferências a partir desses sentidos a Análise de Construção de Sentidos em Redes Digitais, que nos permitiu concluir que jornalismo e sujeitos no Twitter se acionam mutuamente ao longo da repercussão do caso. Para além desse acionamento, o jornalismo como forma de conhecimento destaca-se enquanto um dos pilares que sustentam a compreensão dos sujeitos a respeito de questões constantemente em debate na sociedade como gênero, violência e justiça. Além disso,percebemos que o jornalismo, neste caso,faz uso de um discurso que mantém o status quoao explorar apenas elementos pontuais que impactam e reverberam nas redes sociais, sem contextualização ou reflexão a respeito de seu papel formador. Não podemos ignorar, no entanto, o fortalecimento nas redes sociais de discursos feministas, de sororidade e questionamento de narrativas da mídia hegemônica e de enfrentamento da culpabilização da vítima, que também encontram eco na cobertura jornalística, ainda que de modo incipiente.