Resumo:
A corrente investigação pensa os sujeitos subalternos na prosa jornalística de Eliane Brum. Nessa perspectiva, serão analisadas dez reportagens presentes no livro O olho da rua. A pesquisa adota como aporte teórico-metodológico a micro-história italiana, tendo os estudos de Carlo Ginzburg e Giovanni Levi como o leitmotiv para discutir a presença das pessoas comuns na tessitura da prosa jornalística. Os pesquisadores italianos servem de parâmetro para se analisar os contextos sociais, históricos e, por extensão, jornalísticos a partir do acesso aos estratos da cultura popular, focalizando o ponto de vista das classes subalternas. Desse modo, a micro-história se constitui como uma metodologia importante para o trabalho dos historiadores, especialmente, por ajudar na reconstrução de trajetórias e biografias. Tomando-se a microanálise como caminho epistemológico, nota-se que os acontecimentos e fatos assumem uma dimensão social, em que as narrativas engendram uma gama profusa de sentidos e promovem o aprofundamento dos aspectos históricos – adotando como termo central o indivíduo – em contraposição aos valores arraigados que colocam em primeiro plano a história social dominante. Compreende-se que a prática de Eliane Brum subverte os preceitos do paradigma jornalístico ao apontar para uma nova configuração de regras e postulados – entendida, para os termos do presente estudo, como micro-jornalística. A leitura minuciosa dos trabalhos de Carlo Ginzburg, Giovanni Levi e dos comentadores permitiu definir quatro categorias de estudo para o corpus de O olho da rua: 1) redução da escala de observação; 2) descrição etnográfica; 3) paradigma indiciário e 4) narrativa. A proximidade entre os campos do jornalismo e da história é problematizada por meio do diálogo com os estudos de Charron e Bonville (2016), Hall (2003, 2010, 2016), Alsina (2009), Gomis (1991, 2004), Neveu (2006), Traquina (2016) e Tuchman (1983, 2016). A investigação ancora-se também na articulação com os estudos micro-históricos de Carlo Ginzburg (1989, 1991, 2006, 2007, 2014), Jacques Revel (2010, 2015), Carlos Antonio Aguirre Rojas (2012), Giovanni Levi (2003, 2015) e Henrique Espada Lima (2006).