Resumo:
Esse estudo tem como objetivo analisar o setor de vinhos finos do Vale dos Vinhedos observando sua trajetória tecnológica a fim de identificar através dos elementos elencados na literatura se esse setor está passando por um processo de catching-up. Giuliani, Morrison e Rabellotti (2011) explicam que enquanto muitas discussões sobre catching-up vêm sendo realizadas em termos de países, também há uma corrente na literatura que analisa o catching-up de setores, objeto dessa dissertação. O Rio Grande do Sul apresenta um desempenho de sucesso na área vinícola, já que o estado concentra o maior número de empresas do setor no país, estabelecidas no Vale dos Vinhedos, Campos de Cima da Serra, Serra do Sudoeste e Campanha. O Vale dos Vinhedos vem se destacando com relação à produção e comercialização de vinhos finos (considerados produtos de qualidade premium) e espumantes, com reconhecimento internacional, por isso o interesse dessa dissertação nesse setor e região. A análise foi desenvolvida por meio de pesquisa de campo com abordagem qualitativa, onde foram entrevistados pessoalmente 10 enólogos de 10 vinícolas e 5 representantes de instituições, no período de abril a junho de 2019. Os dados foram analisados com auxílio do sistema Nvivo®, com o objetivo de melhor captar nas entrevistas os elementos essenciais que caracterizam um processo de catching-up ou de upgrading tecnológico, organizados nas categorias de tecnologia, conhecimento, mercado, gestão e instituições. Como resultados centrais, destacam-se: 1) o grupo de vinícolas do Vale dos Vinhedos passou por um upgrading tecnológico no período de 2005 a 2010, quando houve a necessidade de adaptação tecnológica em função das mudanças ocorridas no mercado, após a entrada de vinhos importados, exigindo uma atualização do setor para concorrer com esses novos produtos; 2) atualmente pode-se afirmar que o setor não está passando por um novo upgrading tecnológico, visto que, conforme a percepção das vinícolas e instituições entrevistadas, o setor do Vale dos Vinhedos já está emparelhado tecnologicamente com processos produtivos considerados de fronteira, e processos vinculados à viticultura e 3) aponta-se para um possível novo upgrading quando o setor se deparar com uma qualificação de demanda nacional, pois esse é o foco principal de mercado das vinícolas estudadas. A questão está no desafio de ampliar o consumo per capita de vinhos finos. Há esforços das firmas e instituições para que isso ocorra em um futuro próximo, tais como: foco no
desenvolvimento de produtos de consumo mais fácil, desenvolvimento do enoturismo para divulgar os produtos da região, reconhecimento de seus produtos em concursos internacionais e negociações para redução da carga tributária. Em termos de contribuição do estudo, destacam-se: 1) a relevância de analisar as condições competitivas de um setor produtivo que possui como trajetória tecnológica a oferta de produtos (cada vez mais) premium; e 2) a importância de analisar a trajetória do setor, nível mesoeconômico, que permite compreender os papéis de diferentes atores no processo de desenvolvimento setorial: firmas de diferentes portes e comportamentos, instituições públicas e privadas. No caso do setor investigado, diferentes atores tiveram papéis importantes na trajetória do segmento, indicando que os esforços coletivos e coordenados são necessários para a ocorrência de saltos tecnológicos.