Resumo:
Esta pesquisa buscou contribuir no processo de construção de conhecimento do design e na ampliação do seu papel de agente de mudanças sociais. Entendeu-se como a visão do Design Estratégico poderia colaborar com o desenvolvimento de uma comunidade de baixa renda no Brasil e para tal se estudou um grupo de uma comunidade com baixo Índice de Desenvolvimento Humano, da zona sul de Porto Alegre, composto por mulheres que produzem trabalhos manuais e artesanato como fonte de renda e que estavam montando um empreendimento conjunto de economia solidária. Por meio de uma abordagem qualitativa de inspiração etnográfica, com observações e participação nos encontros do grupo, foram entendidos seu contexto, sua composição e dinâmica, identificadas suas características e relações, sua constituição e seu potencial para inovação social. O objetivo desta investigação era levantar elementos que colaborassem para a projetação de um sistema que habilitasse o grupo de artesanato e melhorasse suas condições de desenvolvimento de forma sustentável e criativa. Tendo como fio condutor a teoria de Ezio Manzini de comunidades criativas e sistemas habilitantes, verificou-se que o grupo teria potencial para se transformar em uma comunidade criativa. Apesar de não ter partido do grupo a intenção de sua formação, este apresentou uma postura participativa e se mobilizou na busca de soluções para seus problemas. Principalmente quando estimulado por ferramentas utilizadas pelo design e facilitado pela construção de um cenário possível, no qual levantaram os elementos necessários para a construção de uma solução que colaborasse na sua capacitação, com seu desenvolvimento e com sua sustentabilidade. Contudo, o grupo ainda precisaria evoluir sua influência no processo de projetação, sendo possível através da participação em processos de co-criação e após a implantação dos sistemas habilitantes. Por se tratar de uma ação pontual, apesar do grupo de artesanato levantar os elementos necessários para sua capacitação, ficou a cargo da pesquisadora a construção das bases para uma proposta de sistema habilitante que considerou como premissas o empoderamento, compartilhamento, criação de redes, envolver menor custo e resgate dos bens comuns. Esta proposta ainda precisaria ser validada ou servir como estímulo para soluções que satisfizessem plenamente a necessidade do grupo. Baseado neste estudo, o design pode fortalecer seu papel de agente de transformação social, entretanto, dada a complexidade e as dimensões de problemas envolvidos no segmento de baixa renda, é necessário que o design esteja presente de forma contínua, sistêmica e colaborativa, sendo possível desenvolver novos estudos e projetos para agregar conhecimento sobre o tema e para a área.