Resumo:
A Doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa demencial que altera os processos neurológicos, cognitivos e interacionais, principalmente em pessoas idosas. Os estigmas em relação a essa patologia podem ser explicados pela degeneração contínua das capacidades cognitivas, físicas e linguísticas, que nos remetem ao frame não somente de morte, mas, sobretudo, ao isolamento e abandono. Apesar da Doença de Alzheimer ser um mal cada vez mais comum em pessoas idosas, a família ainda não reconhece a diferença entre a deficiência relacionada à memória como uma característica frequentemente atrelada à idade avançada de uma pessoa, da confusão mental e/ou perda de memória, que configura o indício mais comum de desenvolvimento da doença. Entendemos o Grupo de Apoio como um espaço de prática social, onde é possível compartilhar a experiência de vivência, informações e dilemas sobre uma condição que é pouco disseminada em nossa sociedade. Preconizando a favor da coletividade e igualdade de direitos, o Grupo de Apoio visa a agir na luta contra qualquer tipo de estigma em torno dessa doença. Nesse viés, esta dissertação analisa as interações ocorridas no contexto institucional de um Grupo de Apoio a familiares e/ou cuidadores de pessoas com a Doença de Alzheimer, situado em uma cidade do sul do Brasil. No contexto dessa patologia, os Grupos de Apoio constituem espaços importantes de socialização, onde familiares e/ou cuidadores podem compartilhar experiências de cuidado e convívio com a pessoa com a Doença de Alzheimer. Além disso, a presença dessas pessoas nas reuniões, ouvindo ou produzindo as narrativas, propicia o conhecimento de situações ainda não vividas pelos familiares, demonstrando a interação pela linguagem como compreensão da realidade. O foco de nossas análises recai nas estratégias de referenciação e nas formas de desenvolvimento de tópicos discursivos, levando em consideração o narrador e a audiência da narrativa. Nosso objetivo principal é analisar como as narrativas orais são constituídas no contexto textual e interacional, buscando os seguintes objetivos específicos: (a) descrever o formato das narrativas das reuniões do GA, a partir dos estudos que abordam esse tipo de texto oral, sob o enfoque de estruturas recorrentes e como produto da interação da face a face; (b) verificar o papel da audiência no processo de coconstrução das narrativas orais produzidas por participantes que são familiares e cuidadores de pessoas diagnosticadas com a Doença de Alzheimer; (c) analisar as estratégias de referenciação no desenvolvimento de tópicos discursivos, levando em consideração o narrador e a audiência. O referencial teórico está fundamentando no campo da Análise da Conversação baseado nas teorias do cânone laboviano (1967; 1997), acerca dos estudos das narrativas de Koch (2001), Mondada e Dubois (2003) e Cavalcante (2003) sobre referenciação; Jubran (1992) acerca do tópico discursivo atrelado à proposta de Grupo de Apoio. O corpus analisado neste trabalho é proveniente de 24 horas de gravações em vídeo de oito reuniões do Grupo de Apoio, inserindo-se como parte do projeto denominado O tópico discursivo e o contexto interativo na análise das interações de um Grupo de Apoio aos familiares cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer, coordenado pelo Prof. Dr. Caio Mira. O critério de escolha dos excertos foi a presença de narrativas que retratassem partes da rotina das reuniões do Grupo de Apoio para familiares e/ou cuidadores de pessoas com a Doença de Alzheimer, evidenciando o objeto de estudo desta pesquisa. Os resultados desta pesquisa demonstram a necessidade de se discutir acerca dessa realidade a partir da perspectiva de quem convive com essa patologia, a fim de que se sintam amparados para obter informações sobre a doença, afastando o estigma social.