Resumo:
As abordagens inovadoras, fortalecedoras do autocuidado, pretendem superar o paradigma biomédico de acompanhamento dos doentes crônicos. São atividades diferenciadas como arte e atividade física que, rotineiramente, não ocorrem nos serviços de saúde. Este estudo objetiva compreender como as abordagens inovadoras incidem no autocuidado de diabéticos, de que forma influenciam e modificam a vivência com a condição crônica. A metodologia de cunho qualitativo utilizada foi a cartografia, identificada como pesquisa de intervenção no sentido de revelar o processo de autocuidado do diabético, produzindo sujeitos e conhecimentos simultaneamente, não havendo a separação de pesquisador-pesquisado, como uma produção intersubjetiva. O coletivo de pesquisa foi formado por 10 diabéticos (6 mulheres e 4 homens), diagnosticados há pelo menos 5 anos, que participavam de abordagens inovadoras. O tempo do diagnóstico variou de 6 até 34 anos. Os temas abordados na entrevista foram vivência, abordagens inovadoras, itinerário terapêutico, vínculo e autocuidado. As ESF e as abordagens inovadoras selecionadas foram respectivamente: Vargas (grupo Hiperdia), São José (grupo Hiperdia e grupo de artesanato), Fortuna (grupo de convivência) e Freitas (grupo de caminhada). Ao final do processo as entrevistas gravadas foram transcritas na íntegra, traçou-se o mapa do itinerário terapêutico e investigou-se o processo de construção da subjetividade em relação às abordagens inovadoras. Foram construídos dois mapas para cada participante. No mapa descritivo no centro está o paciente e sua família e no entorno são discriminados cinco aspectos: rede de apoio social, rede de saúde, abordagens inovadoras vínculo e autocuidado. No mapa interligado descreveu-se os quatro aspectos citados, exceto o vínculo que foi evidenciado através de linhas. Estes mapas foram desenvolvidos com o auxílio do software miMind, objetivando descrever e evidenciar as ligações/associações existentes, sendo posteriormente utilizados para evidenciar os resultados e discuti-los. Para o artigo, foram selecionados quatro mapas, nos quais aparecia mais claramente a processualidade do percurso, modos de subjetivação e construção da autonomia no modo de gerenciar as manifestações da diabete. Os mapas selecionados foram Rosa (ESF Vargas – grupo Hiperdia) e Cravo (ESF São José – grupo Hiperdia) com maior tempo de diagnóstico, respectivamente 20 e 34 anos, e Violeta (ESF Fortuna – grupo de convivência) e Iris (ESF Freitas – grupo de caminhada) com menor tempo de 6 e 7 anos. Os resultados evidenciaram que os pacientes vivenciaram uma situação anterior pautada pelo descontrole da patologia, ocorrência de eventos agudos, ida a serviços de emergência, piora da doença, sentimentos de vulnerabilidade, angústia e incapacidade para lidar com a condição. A participação nos grupos de abordagens inovadoras oportunizou orientações, compartilhamento de informação, vínculo com os profissionais, relações construídas e uso de tecnologia para medir a glicemia. A religiosidade e o apoio familiar se aliaram a esses benefícios promovendo juntos a produção de subjetividade, de modo que o sujeito se torna protagonista da situação. Dessa forma as abordagens inovadoras auxiliam na construção do autocuidado, de forma que os pacientes adquirem a capacidade de perceber o seu corpo, auscultar os sintomas, regular a medicação e a dieta, praticar exercícios físicos e aprender a lidar com a condição crônica, promovendo sua autonomia.