Resumo:
Este trabalho, que se insere na interface entre Semântica de Frames (FILLMORE, 1982; 1985) e Lexicografia Eletrônica, objetiva investigar a contribuição da noção de frame para o desenvolvimento de dicionários digitais online, a partir: (i) de uma análise metalexicográfica do Dicionário Olímpico (CHISHMAN, 2016) e de um conjunto de dicionários digitais online convencionais e (ii) de uma análise comparativa entre o Dicionário Olímpico e o conjunto dos demais dicionários, tendo como base o arcabouço teórico da Lexicografia Eletrônica, da Lexicografia tradicional e da Semântica Cognitiva. Para tanto, nos voltamos para a bibliografia da Semântica de Frames, de modo a dar destaque, num primeiro momento, aos preceitos subjacentes à noção de frame e ao potencial teórico desse conceito para a descrição do significado lexical e, num segundo momento, ao viés aplicado da teoria na relação com a Lexicografia (FILLMORE, 2003; FILLMORE; ATKINS, 1992). Porém, propomos uma ampliação da proposta original da interface, na medida em que nos voltamos para a literatura da Lexicografia Eletrônica. Nesse sentido, oferecemos um panorama relativo à área que se dedica ao desenvolvimento de dicionários digitais, de modo a tratar dos desafios, expectativas e demandas que se delineiam a partir da trajetória histórica do campo e de sua configuração atual. A metodologia pode ser dividida em quatro partes que correspondem: (i) à seleção do conjunto de dicionários digitais online convencionais a serem analisados; (ii) aos desdobramentos relativos à análise metalexicográfica, que apontaram para a necessidade de refletir sobre uma proposta de Metalexicografia Digital que sistematizasse os critérios metalexicográficos específicos da Lexicografia Eletrônica; (iii) à elaboração de formulários da análise metalexicográfica, relativos à composição e à natureza de dicionários online e à pesquisa da história da Lexicografia Eletrônica; e (iv) à descrição das estratégias de análise, contemplando os procedimentos de preenchimento dos formulários, a elaboração de fichas de observação e a montagem de rankings dos dicionários. A análise e discussão dos dados se deu a partir das informações obtidas por meio dos materiais de análise e teve como finalidade servir para a discussão acerca do modo como os dicionários evidenciam a identidade digital online e acerca do papel da noção de frame na construção da identidade digital online do Dicionário Olímpico. Os resultados evidenciaram que a falta de clareza sobre formas de assumir a identidade digital online de modo eficiente constitui o principal obstáculo para o desenvolvimento de dicionários digitais online; que a identidade digital se apresenta em diferentes níveis nas ferramentas analisadas e está relacionada ao fato de os dicionários possuírem ou não uma contraparte impressa; e que a noção de frame desempenhou o papel de fornecer as diretrizes para uma apresentação eficiente dos elementos digitais no Dicionário Olímpico. Por fim, constatamos que a noção de frame contribui para o desenvolvimento de dicionários digitais online na medida em que as noções de ‘conhecimento enciclopédico’, ‘empirismo’ e ‘continuidades entre linguagem e experiência’, subjacentes à noção de frame, são responsáveis pelo fato de, em um dicionário baseado em frames, os elementos digitais assumirem funções mais centrais na construção do significado.