Resumo:
No senso comum, o briefing é entendido como um componente importante em qualquer projeto por conter elementos necessários que explicitam o problema e orientar os envolvidos na ação projetual. Mesmo que os estudos em design o compreendam como algo que gera diálogo entre os atores envolvidos no projeto (ZURLO, 2010), não sendo restritivo ou vago demais (BROWN, 2009) e auxiliando no enquadramento dos problemas (BUCHANAN, 1992) tornando, desta forma, o processo de projeto mais criterioso (Associação dos Designers Gráficos do Brasil, 2004), tais concepções não parecem acompanhar as movimentações teóricas sobre o processo de projeto, entendido como transdisciplinar, não-linear e coevolutivo. (MAURI, 1996, FINDELI, 2001, DORST, 2003). Chega-se, desta forma, ao problema de pesquisa: quais são as competências do briefing no processo de projeto? Com o objetivo de compreender suas competências, adota-se a perspectiva teórico-metodológica da Teoria Ator-Rede por entender que seus princípios contribuem no alcançar de outras compreensões acerca das relações estabelecidas nas dinâmicas de projeto, a partir da impossibilidade de distinguir entre humanos e não-humanos ou apontar empiricamente diferenças entre suas actancialidades na construção de fatos e artefatos (LAW, 1992; LATOUR, 1987; CALLON, 1986). Suas agências, enquanto actantes (LATOUR, 1999), mediam e intermediam (SAYES, 2013) a emergência de questões de preocupação (LATOUR, 2008) em uma processualidade que enacta-se (LAW, 2009) no campo das competências ou no ‘poder-fazer’ (FIORIN, 1989), trazendo uma nova luz aos temas do design. A partir análise de conteúdo, realizada sobre a análise documental de 58 briefings enviados por 6 informantes que se denominavam escritórios de design ou se denominam ‘empresas com departamento de design’ e de dois grupos focais compostos por 3 e 4 informantes, respectivamente, seguindo o mesmo critério, esta pesquisa propõe tópicos gerais que compreendem o briefing com competências de 1) enactar a ação projetual, ampliando a capacidade crítico reflexiva ao operar agenciamentos criativos e deslocamentos temporais; 2) mediar interesses relacionados ao processo de projeto (estabelecendo um tipo de nivelamento de ordens distintas que estabilizam da rede formada em torno do projeto), traduzindo a si mesmo (sendo plástico suficiente para moldar-se conforme a necessidade e as naturezas distintas de projeto) e pontualizando e despontualizando os interesses, abrindo competências as quais o projeto deverá estar sensível e atento; 3) inscrever o designer como alguém capaz de tratar destes interesses em jogo, seja numa arqueologia que vai as profundezas do que não é explicitados claramente relacionados a mercado ou a sensibilidades, seja tratando de aspectos puramente técnicos, em um movimento que evidencia 4) o caráter ambíguo e ambivalente do briefing no processo de projeto, de uso plural, orientado pela doma do projeto.