Resumo:
O processo de formação da tomada de decisão tem na moderna teoria de finanças o pressuposto de que os investidores agem de forma racional no mercado, são avessos ao risco, buscam a maximização da utilidade esperada, que os mercados são altamente eficientes e que os investidores exploram todas as oportunidades de arbitragem. Se esta premissa estiver correta, como então explicar porque investidores e analistas do mercado financeiro adquirem, mantém e/ou recomendam ações de empresas com patrimônio líquido negativo, já que estas empresas em tese estão prontas para a liquidação. Esta contestação a racionalidade ilimitada dos agentes do mercado financeiro tem sua base nas finanças comportamentais. Partindo destas premissas essa tese buscou compreender como se dá a formação do processo da tomada de decisão de investidores e analistas do mercado financeiro em relação à compra/venda/manutenção e/ou recomendação de ações de empresas com patrimônio líquido negativo listadas na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão). Primeiramente montou-se uma carteira de investimentos, cuja composição é somente de empresas que adentraram ao patrimônio líquido negativo para verificar se ocorreram retornos positivos anormais para investimentos em empresas neste tipo de situação. A carteira foi formada com 77 empresas de um total de 208 que apresentaram pelo menos um trimestre de patrimônio líquido negativo no período de análise de retorno da carteira que foi de 1998 à 2016. Comparando o resultado desta carteira com investimentos livre de risco (Poupança e CDI) e a um investimento de risco similar (IBrX50), na análise da carteira buscou-se confirmar se é possível obter retornos positivos anormais em determinado período com investimentos em empresas com patrimônio líquido negativo e se este retorno propiciado é condizente com a relação risco/retorno preconizado pela moderna teoria de finanças. Os resultados encontrados apontam que é possível obter resultados positivos anormais, porém não atendem a relação risco/retorno se comparado a um investimento livre de risco. Estes resultados serviram de base para o desenvolvimento da tese proposta de que a formação do processo da tomada de decisão por parte de investidores e analistas do mercado financeiro trata-se de um processo de decisão parcialmente racional, pois este processo é afetado por aspectos comportamentais. Para confirmar esta tese, foram realizadas entrevistas com investidores (22) e analistas do mercado financeiro (09), que possuíram, possuem, recomendaram, recomendam a compra/venda e/ou manutenção de ações de empresas com patrimônio líquido negativo. As questões semiestruturadas das entrevistas foram suportadas pela moderna teoria de finanças e pelos vieses comportamentais: Contabilidade Mental; Aversão a Perda; Fuga ao Arrependimento; Efeito Disjunção, Efeito Manada, Loteria, Excesso de Confiança, Excesso de Otimismo e Ilusão Monetária. O método utilizado foi a análise de conteúdo, tendo como base as premissas da Hipótese do Mercado Eficiente (HME) e das Finanças Comportamentais (FC). Os resultados encontrados conduziram a três categorias de processos na formação da tomada de decisão. A 1ª categoria “Processo Racional”, atende a premissa da HME, de que tanto o investidor quanto os analistas são racionais. A 2ª categoria “Processo Pseudorracional”, atende parcialmente a premissa da HME, quanto atende parcialmente a premissa das Finanças comportamentais. A 3ª categoria “Processo Comportamental” atende a premissa das Finanças comportamentais. Os resultados demonstram que individualmente nenhum dos investidores ou analistas do mercado financeiro entrevistados podem ser classificados dentro de uma categoria específica, neste sentido não há um processo totalmente Racional, Pseudorracional ou Comportamental.