Resumo:
O Apego Materno Fetal (AMF) é o vínculo que a gestante desenvolve com o seu bebê durante a gestação e que tem repercussões na gestação, no nascimento e no relacionamento entre mãe-bebê. Com o objetivo de investigar esse construto, esta dissertação compõe-se de dois estudos, sendo um de revisão de literatura e o segundo de uma pesquisa empírica. A revisão de literatura teve como objetivo identificar e analisar estudos empíricos que avaliaram o Apego Materno Fetal (AMF) em gestantes, investigando também fatores sociodemográficos e psicossociais associados. Foram selecionados 23 artigos de oito países diferentes e envolvendo estudos transversais e longitudinais. De modo geral, os estudos revisados apontaram questões pessoais, como depressão, ansiedade, nível de maturidade e saúde mental, bem como aspectos socioeconômicos, como apoio social, que se associavam à qualidade do AMF. A revisão indicou ainda que o AMF também se relaciona com os cuidados na gestação e com as condições de nascimento, influenciando a vinculação com o bebê e o seu desenvolvimento. Por fim, alguns estudos incluídos também sugerem a associação do AMF com as memórias parentais da gestante. Já a pesquisa empírica teve como objetivo identificar os níveis de AMF em gestantes, relacionando-os com seus vínculos parentais, o tipo de assistência recebida do serviço de saúde durante o pré-natal e demais variáveis sociodemográficas. Tratou-se de um estudo de levantamento descritivo, correlacional e transversal, utilizando um questionário respondido on-line contendo a Escala de Apego Materno-Fetal, a subescala de cuidado do Parental Bonding Instrument e uma ficha de dados sociodemográficos. Participaram 364 gestantes de todo o país, com média de idade de 27,31 anos (DP = 6,03). A maioria das gestantes trabalhava (55,5%), eram casadas ou moravam com o companheiro (81,6%) e com renda mensal familiar predominante de um a dois salários mínimos (31,8%). A média do AMF na amostra foi de 71,43 (DP = 11,76). Verificou-se uma correlação positiva e moderada entre o AMF e a idade gestacional (r = 0,328; p < 0,001), e uma correlação negativa fraca com a idade da gestante (r= -0,219; p=≤0,05). As gestantes que utilizavam a rede pública de assistência para o pré-natal apresentaram maiores médias de AMF do que as que utilizavam exclusivamente a rede privada (t= 4,394; p≤ 0,05), e maiores níveis de AMF relacionaram-se com melhor percepção do cuidado parental. Na análise multivariada, as memórias das práticas de cuidado da mãe se mostraram preditoras do AMF em 5,10% (Beta= 0,226; p= 0,000) e a idade da gestante em 4,5% (Beta= -,219; p=0,000). Concluiu-se que é necessário conhecer o AMF das gestantes como forma de prevenção em saúde.