Resumo:
A vitamina D exerce papel fundamental no metabolismo ósseo, além de participar de diferentes funções no organismo, entre elas no sistema cardiovascular. Baixos níveis séricos desta vitamina podem predizer a ocorrência de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP), uma doença cardiovascular provocada pela presença de lesões ateroscleróticas nos vasos sanguíneos. Avaliar os níveis séricos de vitamina D e sua relação com a DAOP em usuários de um ambulatório para doenças vasculares no sul do Brasil. Estudo transversal, com amostra consecutiva de 144 indivíduos, de ambos os sexos, ≥ 40 anos, de março/2016 a janeiro/2017. Foram considerados com DAOP pacientes com índice tornozelo braquial ≤ 0,90 ou com revascularização arterial. Variáveis demográficas, socioeconômicas, comportamentais e comorbidades foram obtidas por meio de questionário padronizado. O nível sérico de vitamina D foi determinado bioquimicamente e classificado em: suficiente (≥30 ng/mL), insuficiente (>20 a 29 ng/mL) e deficiente (<20 ng/mL). Na investigação dos fatores associados ao nível sério de vitamina D, as análises foram estratificadas por sexo. Na análise bivariada utilizou-se o teste do qui-quadrado de Pearson para as variáveis categóricas, o teste U de Mann-Whitney para as variáveis numéricas assimétricas e o teste t para as variáveis numéricas simétricas. A regressão linear múltipla foi utilizada para avaliar a relação entre as variáveis independentes e o nível sérico de vitamina D e a regressão de Poisson para analisar a associação entre os níveis séricos desta vitamina e a ocorrência de DAOP. Os participantes apresentaram 36,1% (IC95% 28-44) de insuficiência e 45,1% (IC95% 36-53) de deficiência de vitamina D. A idade associou-se inversamente com nível sérico de vitamina D (β = -0,22; IC95% -0,38; -0,07), enquanto as variáveis exposição solar (β = 0,49; IC95% 0,13; 0,84) e consumo de vitamina D (β = 2,92; IC95% 0,84; 5,00) mostraram-se positivamente associadas. Na amostra estratificada por sexo, foi demonstrado um efeito independente e inverso da idade e direto da exposição solar ainda que limítrofe, sobre os níveis séricos de vitamina D nos homens e, um efeito independente e direto do consumo de vitamina D nos níveis séricos desta vitamina nas mulheres. A prevalência de DAOP foi de 50,7% (IC95% 42-59). As RP ajustadas para DAOP foram 1,08 (IC95% 0,66-1,76) para nível sérico insuficiente e 1,57 (IC95% 0,96-2,57) para o nível sérico deficiente de vitamina D; (p para tendência = 0,020). O presente estudo encontrou alta prevalência de insuficiência e deficiência de vitamina D na população estudada. As variáveis associadas com a vitamina D foram idade e exposição solar entre os homens e consumo de vitamina D entre as mulheres. O nível sérico de vitamina D mostrou uma relação dose resposta inversa e significativa com DAOP. Considerando a elevada prevalência de baixos níveis séricos de vitamina D e as diferentes funções exercidas por esta vitamina no organismo, incluindo o seu efeito na DAOP, é importante orientar a população para uma exposição solar e consumo de alimentos fontes de vitamina D adequados.