Resumo:
Esta pesquisa investigou os impactos das crises econômicas sobre a decisão de investimento corporativo, em companhias brasileiras de capital aberto, no período entre 1995 a 2015. Para a realização desse trabalho, as empresas foram separadas em dois grupos para captar os efeitos adversos da restrição financeira (restritas e irrestritas) e o efeito moderador dos estoques de ativos líquidos (maior estoque ou menor estoque de ativos líquidos). A avaliação destes relacionamentos demandou a realização de três testes empíricos. Os resultados alcançados no primeiro teste revelam que apenas as proxies payout e tamanho/payout apresentam comportamento preconizado pela teoria para classificação do estado de restrição financeira das firmas, reportando resultados alinhados às evidências promovidas pela estratégia empírica básica de Fazzari, Hubbard e Petersen (1988) para sensibilidade do investimento ao fluxo de caixa. O segundo teste revelou o efeito amplificador das crises econômicas sobre os investimentos das firmas brasileiras, evidenciando uma sensibilidade negativa do investimento ao fluxo de caixa nos períodos de crises econômicas para as firmas restritas, enquanto que os investimentos de firmas irrestritas se mantêm insensíveis ao fluxo de caixa nos períodos recessivos. Essas evidências para firmas irrestritas confirmam o comportamento preconizado pela literatura, enquanto que amplificação do efeito das crises, em firmas restritas, foi observado pela variação negativa ente investimento e fluxo de caixa nestes períodos de choques econômicos. Os resultados obtidos em firmas brasileiras são consistentes com os evidenciados pela teoria, considerando que as crises econômicas afetam os investimentos das companhias, sendo os efeitos amplificados para as firmas restritas. Além disso, os resultados do último teste indicam que os estoques de ativos líquidos (caixa e equivalentes; caixa e equivalentes e trade credit – contas a receber; caixa e equivalentes, trade credit – contas a receber e estoques; caixa e equivalentes, trade credit – contas a receber; estoques, trade credit – contas a pagar; capital de giro líquido) não exerceram efeito amortecedor sobre os relacionamentos investigados, em especial, sobre os investimentos em firmas restritas nos períodos de crises econômicas. Os resultados reportados instigam a continuidade dessas investigações de modo a entender melhor como se procedem os ajustes operacionais e de investimentos, destacadamente nas empresas restritas financeiramente, seja através de novas proxies para capturar melhor o estado de restrição financeira, seja com a construção de outras variáveis para expressar o investimento, ou a liquidez, bem como avaliar os impactos com uma certa defasagem do tempo, dado que uma decisão de investimento é praticamente irreversível.