Resumo:
Essa tese está organizada em torno de um diagrama que relaciona três instâncias semiotécnicas – a página Guarujá Alerta no Facebook, o site jornalístico Folha.com e suas respectivas seções de comentários. Observamos e inferimos as construções de sentido quando essas instâncias estão em interações em torno do boato da Bruxa de Guarujá (2014). A perspectiva são as epistemologias da midiatização, em específico quando se abordam as redes digitais. A construção do caso acadêmico é um processo que relaciona aporte metodológico, inferências criativas e existenciais, analogias circulares e a definição de três proposições de pesquisa. A primeira delas sugere que as construções de sentido em torno do caso se desdobram a partir de interações entre os três meios em análise, em contato com meios tangenciais, dada a natureza relacional do ambiente midiático. A segunda proposição indica que a página e o site desenvolvem estratégias distintas de acesso dos interagentes ao seu sistema, situação que desencadeia experiências autorregulatórias, assim como contendas entre produção e recepção produtiva. A terceira proposição revela tentativas, manifestadas por atores sociais midiatizados, de encontrar culpados para a exacerbação do boato em morte. Identifica-se um objeto simbólico, denominado de “culpabilização”, que, entretanto, não se apresenta de forma estática e consensual ao longo do caso analisado, ganhando distintos contornos e perspectivas interpretativas a partir de sua associação a outros elementos postos em circulação no mercado discursivo. A análise centra-se nos conceitos de circulação, midiatização, boato, incerteza e disrupção, demonstrando o potencial degenerativo associado ao funcionamento das redes, ainda que delas também verta informação regulatória, reiterando-se o lugar mediador que segue reservado ao jornalismo canônico em tempos de indistinção entre produtores e receptores de meios semiotécnicos.