Resumo:
A presente tese propõe identificar e compreender, através do mapeamento de discursos sobre a crise do jornalismo, indícios de continuidades e rupturas nas práticas e valores da profissão. O faz a partir de um entendimento dialético que
compreende o momento atual como oportunidade de reelaboração crítica da
atividade, com lastro no conceito de práxis e explorando as potencialidades da
profissão como uma forma de produção de conhecimento no contexto das redes
sociais digitais. Para tanto, utiliza como aporte teórico a obra de Marcuse (1978),
Genro Filho (1986, 1989), Kosik (2002) e Sánchez Vazquez (1977). Parte-se de
uma definição do jornalismo e de seus ideais a partir de uma concepção dialética,
que é tensionada pelo contexto de crise da profissão, marcada pela fragilização do
poder econômico e simbólico dos veículos de imprensa tradicionais. Ao mesmo
tempo, os novos recursos oferecidos para a prática do jornalismo através da
internet e das redes sociais digitais criam alternativas para a transformação da
atividade e seus usos sociais. Questiona-se se esse tensionamento cria condições
para a desnaturalização de pressupostos e reflexão por parte dos jornalistas. Assim,
opta-se pela realização de entrevistas semiestruturadas com onze profissionais de três
jornais de referência: o El País (Madrid, Espanha), a Folha de S.Paulo (São Paulo,
Brasil) e a Zero Hora (Porto Alegre, Brasil). Os indícios coletados nas falas dos
entrevistados são classificados através das categorias de reiteração, que reúne
aspectos referentes ao reforço das práticas e valores consolidados do jornalismo;
criação, que engloba novas práticas e valores; e de suspensão, que enquadra
movimentos de experimentação, dúvida e questionamentos críticos por parte dos
jornalistas. Conclui-se que sobressai a reiteração e a suspensão no cotidiano das
redações pesquisadas, em detrimento da criação.