Resumo:
Este trabalho teve por objetivo investigar os fatores linguísticos e tradutórios envolvidos na Declaração de Pequim (ONU, 1995; 2006 [1995]) em língua inglesa e na sua tradução em língua portuguesa, analisando as unidades de tradução (ALVES, 2014) relativas à noção de gênero e verificando como a sensibilidade do tema pode afetar a tradução do documento. Pelo viés da tradução, a declaração da ONU pode ser considerada um texto sensível, pois trata de direito das mulheres, gênero, empoderamento da mulher e sexo versus gênero, pontos que afetam a tradução do texto. Para tanto, utilizamos a Linguística de Corpus como abordagem metodológica tanto para a construção do corpus, composto pela Declaração de Pequim em inglês e português, como para o alinhamento dos textos e criação de grafos. Para nossa análise de dados, selecionamos, qualitativamente, as unidades de tradução empowerment, gender, women and men e men and women, que apresentaram indícios de sensibilidade textual na Declaração de Pequim. A partir das variações e mudanças encontradas, percebemos que o tradutor utilizou distintas técnicas e estratégias de tradução (HURTADO ALBIR; MOLINA, 2002; AIXELÁ, 1996) pensando no propósito tradutório, na cultura da língua-alvo e na recepção do texto-alvo. Por fim, destacamos que a tradução de um texto sensível é um desafio para os tradutores, pois é preciso considerar diferentes fatores contextuais e situacionais no ato tradutório, como o objetivo da tradução, o propósito, a língua-alvo e a cultura alvo, a fim de não causar um choque social ou um estranhamento ao público leitor.