Resumo:
Esta tese tem como objetivo analisar como são constituídas as identidades étnico-linguísticas de um grupo de descendentes de poloneses residentes em uma comunidade da zona rural, no interior do Estado do Paraná. No estudo, identificam-se alguns eventos de letramento que ocorrem em polonês, tanto no contexto escolar quanto fora dele, com o intuito de verificar como esses eventos contribuem para a construção das identidades e a vitalidade da língua polonesa nessa comunidade. Esta pesquisa tem como referencial teórico a construção de identidades (HALL, 2005, GEE, 2000), as práticas de letramento (STREET, 1984), bem como a vitalidade das línguas minoritárias (TERBORG e GARCÍA LANDA, 2011). A pesquisa é de natureza qualitativo-interpretativista, baseada na etnografia da linguagem (GARCEZ e SCHULZ, 2015), tendo como instrumentos de geração de dados as gravações audiovisuais feitas nas aulas de língua polonesa, questionários respondidos por alunos, professora e pedagoga da escola. Também foram feitas entrevistas semiestruturadas com algumas pessoas da comunidade, anotações em diário de campo e gravação das entrevistas em áudio. Além disso, foram analisados vários documentos, como os do Celem (Centro de Línguas Estrangeiras Modernas), relativos à implantação da Língua Polonesa na escola; o Livro Tombo, documentos da paróquia relacionados à comunidade e, no Museu, os documentos históricos ligados à cultura polonesa, os quais deram subsídios para o desenvolvimento desta pesquisa. Os resultados mostram que a tradição religiosa é um dos aspectos identitários mais arraigados e presentes até hoje nessa comunidade. Entretanto, alguns eventos de letramento que ocorriam na igreja local e que mantinham a vitalidade dessa língua, infelizmente, não existem mais. O único evento de letramento na igreja que ainda está sendo preservado nessa língua é a reza do terço antes das missas dominicais. No âmbito familiar, a língua polonesa é utilizada frequentemente, misturando-se com o português (code switching). Por essa razão, algumas expressões como “polonês entrecortado”, “polonês brasileiro” ou “polonês caipira”, são formas utilizadas pelos participantes da pesquisa para se classificar como falantes de polonês, porém, muitas vezes denotam uma baixa autoestima em relação a si e aos outros. Quanto à identidade étnico-linguística, esta se alterna entre a identidade polonesa e a brasileira, dependendo dos seus interlocutores e das circunstâncias que os cercam. E, por último, os resultados mostram que, em geral, as mulheres (“fazedoras” e “invisíveis”) de Santa Faustina assumem diversos papeis, principalmente dentro de casa e na igreja, mas não são empoderadas na presença da comunidade.