Resumo:
A noção de intercompreensão linguística (DOYÉ, 2005) foi introduzida na Europa relacionada a conceitos de plurilinguismo. Está inserida dentro do MAREP- Marco de Referencia para los Enfoques Plurales de las Lenguas y de las Culturas- (CANDELLIER et al, 2007); enfoques definidos como: “enfoques didáticos que colocam em prática atividades de ensino-aprendizagem que implicam várias (entenda-se como mais de uma) variedades linguísticas e culturais”. Partindo destes pressupostos, esta pesquisa se propõe a estudar, dentro de uma comunidade de prática (WENGER, 2001), como o fenômeno da intercompreensão linguística poderia trazer aportes favoráveis para o processo de aprendizagem de espanhol de alunos brasileiros, já que entendemos a intercompreensão em estreita relação com o contexto no qual convivem línguas próximas (CALVI, 2005). Nesta dissertação, foram observadas as interações dentro de uma sala de aula de espanhol LA em Porto Alegre, no Sul do Brasil. Para fundamentá-la, lançamos mão, primeiramente, de estudos sobre a aprendizagem desde uma perspectiva social, contribuindo, assim, para nossa compreensão acerca das diversas maneiras de formar aprendizes críticos e inseridos dentro da sua realidade cultural e socio-histórica. Para tanto, tivemos como aporte a concepção de Comunidade de Prática, advinda da Teoria de Wenger (2001), analisando de que forma o trabalho colaborativo poderia ser favorável para a negociação de significado na formação de um repertorio linguístico compartilhado, ou seja, experiências de construção do saber linguístico que deixam de ser individuais para se tornarem experiências compartilhadas. Para isso, observamos o papel da língua materna dos alunos em tal processo, assim como o repertório de transição no percurso até a língua alvo. Convém vincar que, dito repertório de transição constitui, desde a perspectiva deste estudo, “transferência transitória”. Por tanto, e a modo de concluir, foi possível identificar a intercompreensão natural do português nas “tentativas de construção” do repertório linguístico compartilhado, existiu, em todas as tentativas, a presença constante da LM do aprendiz como fonte ativa de hipótese e seu conhecimento prévio, dentro da abrangência desta pesquisa, permitiu mais acertos do que erros. Desta forma, entendemos necessária a reformulação de um conceito de língua que permita pensar em um conceito de línguas próximas cujas fronteiras são fluidas em ambas as direções