Resumo:
Esta tese foi concebida com o compromisso de investigar a educação bilíngue nas séries iniciais do ensino fundamental de três escolas públicas de surdos no Estado do Rio Grande do Sul. A investigação focalizou contextos de minoria linguística em ambiente bilíngue, bicultural e bimodal de educação de surdos. Nesse cenário, articularam-se estudos nos campos da Linguística Aplicada (CAVALCANTI, 2006; FABRÍCIO, 2006; MOITA LOPES, 2006) e da Educação, com ênfase no campo dos Estudos Surdos em Educação (KARNOPP, 2010; LOPES, 2010; STROBEL, 2009). Os dados foram gerados durante a pesquisa na interação entre pesquisadora e escolas pesquisadas, a partir de relatos de professores, observações, filmagens em vídeo e imagens da produção dos alunos disponibilizadas nas escolas. Entre as principais constatações do estudo, destaca-se que essas escolas ainda mostram resquícios da escola especial, porém com outro desenho, uma vez que ainda se verificam índices baixos de matrícula nas escolas, com turmas pequenas, multisseriadas, nas quais estão não só alunos surdos, mas também surdos com outras deficiências associadas ou não à surdez, alunos com e sem implante coclear, além de poucos profissionais surdos nesses espaços. A presença da língua de sinais é o modo de assegurar práticas pedagógicas significativas fundamentais para dar sentido à educação de surdos. Embora haja uma proposta bilíngue nas instituições pesquisadas, é preciso (re)construir um projeto educacional bilíngue que valorize, priorize e coloque em movimento a condição de vida bilíngue dos surdos, pautada pela diferença surda e pelo modo de vida surda. Em outras palavras, essa escola bilíngue necessita das ferramentas surdas. A língua de sinais é, sem dúvida, o elo importante da escola de surdos, pois possibilita o encontro social, promove a interação entre os surdos. Por meio da Libras, a escola também deve redimensionar o seu olhar sobre a escrita dos surdos, reconhecendo-a como uma escrita surda, que traduz a sua visão de mundo, o seu conhecimento de língua, o seu modo de ser, e que, por isso, tem suas particularidades. O objetivo do ensino da língua portuguesa escrita, para os surdos, como diversos pesquisadores têm apontado (KARNOPP, 2015; PEREIRA, 2011), deve promover a compreensão e a produção de textos que circulam na sociedade. Há fragilidades e potencialidades no contexto das escolas bilíngues de surdos pesquisadas. É preciso promover mais pesquisas e mais diálogo com as escolas de surdos, por meio da articulação produtiva entre Linguística Aplicada e Educação, visando à (re)significação de propostas pedagógicas bilíngues capazes de, a partir de modos de vida surda, da cultura surda, da Libras, promover o acesso à leitura e à escrita da língua portuguesa dentro e fora das escolas. Com isso, é possível valorizar, recuperar e promover as potencialidades e, ao mesmo tempo, buscar formas de superar as fragilidades neste mosaico em que visualizamos as escolas bilíngues desta pesquisa.